Disse-lhes Jesus: “Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse, eu sou“. Então pegaram em pedras para lhe atirarem; mas Jesus ocultou-se, e saiu do templo, passando pelo meio deles, e assim se retirou.—João 5.58. 59
Às vezes é fácil ler um texto como esse e não perceber que algo de grande importância aconteceu. Pela brevidade do texto, podemos cometer o erro de ler despercebido um momento que reflete uma verdade de proporções cósmicas.
Considere: é normal que pessoas peguem pedras para jogar em alguém? Que tipo de emoções levam a um ato de querer ferir e até matar alguém? Mesmo lembrando que apedrejamento era uma forma de execução prevista na lei de Moisés (cf. Lv 20), convém considerar que aqui que não houve julgamento oficial; esses homens estavam dispostos a apedrejá-lo sem tomar passos legais. Além disso, o próprio texto do evangelho nos informa que a liderança judaica naquele tempo não tinha autoridade para executar a pena de morte (Pilatos disse: “Levem-no e julguem-no conforme a lei de vocês”. “Mas nós não temos o direito de executar ninguém”, protestaram os judeus. – Jo 18.31). Portanto, precisamos ler com cuidado para entender as emoções turbulentas e homicidas que agitaram aqueles homens. Eles queriam matar Jesus naquele mesmo instante.
Mas por que estavam tão agitados? O que Jesus lhes disse que podia incitar tamanhas paixões? A frase “…antes que Abraão existisse, eu sou” é uma frase tão inofensiva. Soa até como sendo gramaticalmente incorreta. Por que aqueles judeus estavam dispostos a ignorar a lei de Moisés e dos romanos, e até mesmo a moralidade básica, a fim de matar Jesus?
A resposta é simples, mas profunda: ao responder os judeus com a frase “eu sou” Jesus estava se identificando não apenas como um servo de Deus, mas como o próprio Deus. O que ele declarou naquele momento gerou um conflito: ou ele é, de fato, Deus encarnado, ou ele falava blasfêmia, pois estava afirmando que é Deus.
Como a frase “eu sou” pode carregar tanto peso? Ela é importante pois remete ao nome que Deus usou para se identificar ao povo de Israel no tempo do êxodo:
Então disse Moisés a Deus: “Eis que quando eu for aos filhos de Israel, e lhes disser: O Deus de vossos pais me enviou a vós; e eles me disserem: Qual é o seu nome? Que lhes direi?”“E disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós. E Deus disse mais a Moisés: Assim dirás aos filhos de Israel: O Senhor Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó, me enviou a vós; este é meu nome eternamente, e este é meu memorial de geração em geração”.—Êxodo 3.13-15
Desde o tempo de Moisés, essa frase “eu sou” era sinônima com o nome de Deus. Observe a forma que Jesus usou esse título:
“antes de Abraão…” (passado)
“eu sou” (presente)
Jesus estava afirmando ser eterno, o próprio Deus! A própria reação dos judeus confirma isso: eles queriam matá-lo por blasfêmia, pois entenderam exatamente o que Jesus estava afirmando.
Ao longo do seu evangelho, João descreve sete discursos em que Jesus empregou a frase “eu sou” juntamente com alguma metáfora que explicava as suas qualidades como Deus-Homem. Abaixo estão estas sete declarações com os links para os guias de estudo dos textos onde se encontram.
eu sou o pão da vida
Contexto: a multiplicação dos pães e dos peixes.
O Pão que Desceu do Céu, João 6.22-30
A Vontade de Deus Pai, João 6.31-51
eu sou a Luz do Mundo
Contexto: Festa dos Tabernáculos, onde se acendiam grandes candelabros.
Jesus, a Luz do Mundo, João 8.12
eu sou a porta das ovelhas
Contexto: toda a cultura pastoril dos judeus.
A Porta das Ovelhas, João 10.1-10
eu sou o bom pastor
Contexto: toda a cultura pastoril dos judeus.
O Bom Pastor, João 10.11-21
eu sou a ressurreição e a Vida
Contexto: a morte e iminente ressurreição de Lázaro.
As Dimensões Histórica e Espiritual, João 11.1-57
eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida
Contexto: Tomé pediu que Jesus lhes mostrasse o caminho para o Pai.
O Caminho, a Verdade e a Vida, João 14.1-11
eu sou a videira verdadeira
Contexto: o retrato de Israel como a vinha de Deus.
Permanecer para Frutificar, João 15.1-6
Permanecer para Glorificar, João 15.4-11
Permanecer para Amar, João 15.9-17
