“Onde Está Deus quando…?”

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É uma pergunta que ouvimos toda vez que há uma tragédia, não importa o tamanho. Pergunta-se quando milhares morrem, ou quando apenas um bebê não chega a tomar o primeiro fôlego da vida. Podem acompanhar as perguntas “Por quê, Deus?” ou “Como pode o Deus de amor deixar isto acontecer?” É um clamor do coração, uma pergunta desesperada por algo que nos norteie em meio à confusão da nossa tristeza. Para alguns, é um pergunta honesta que busca a Deus, e termina no conforto de Deus por meio de um entendimento da Sua palavra. Infelizmente, para muitos outros, é uma pergunta acusatória e que despreza a Deus, e termina no desespero que vem quando rejeitamos o Único que pode fazer sentido de qualquer parte da nossa existência.

No encalço de mais uma tragédia, pessoas estão fazendo esta pergunta, e outras semelhantes. E há uma resposta–uma resposta bíblica–para estas perguntas. Mas antes de falarmos sobre isto, considere como é realmente terrível a nossa situação:

Estatisticamente, nos dias desde 11 de março, 2011, mais pessoas morreram mundialmente do que o número mais alto previsto como resultado do terremoto que atingiu o Japão. De acordo com o CIA World Factbook (uma fonte de estatísticas mundiais da Agência Central de Inteligência dos EUA), em média, cerca de 150.000 pessoas morrem no mundo diariamente. Isto é, mais ou menos duas pessoas a cada segundo. Quando este artigo foi escrito, a previsão mais alta de mortes resultantes do terremoto e tsunami no Japão estava em torno de 10.000. Calcule o número de dias desde o terremoto do dia 11 de março e multiplique por 150.000, e então compare os resultados. Os números são estarrecedores.

Não entenda mal. O meu propósito aqui não é de minimizar a tragédia no Japão, mas sim de chegar a uma visão mais clara da tragédia global que acontece diariamente. Na minha vida já aconteceram muitas tragédias, com o número de mortos relativamente baixo nos acidentes aéreos e tragédias semelhantes, aos números mais altos em alguns ataques terroristas, aos números insanamente altos dos desastres naturais. E mesmo os números mais altos destes raramente chega à média diária de mortes mundiais de 150.000 pessoas.

A conexão entre estas estatísticas mórbidas e a pergunta original, onde está Deus quando tudo isto está acontecendo, é esta: nós tendemos a perguntar sobre o paradeiro de Deus quando um número inexplicavelmente alto de vidas são tiradas em um evento (e suas sequelas). A verdade é que, se entendêssemos a condição horrivelmente fatal que nós denominamos “vida”, nós perguntaríamos sobre Deus o tempo todo.

Deus não teme esta pergunta. De fato, Ele sabe que nós vamos fazê-la. Ele até já deu resposta.

Onde, então, estava Deus quando o terremoto atingiu o Japão?

A resposta mais básica é: onde Ele sempre esteve.

Eu sei que é um resposta simples, talvez até pareça banal, mas vou explicar mais.

Devemos entender, em primeiro lugar, um pouco de por que estas coisas ruins acontecem, antes de ver o que a Bíblia diz sobre o envolvimento de Deus em tudo isto. Os primeiros dois capítulos de Jó nos dão um resumo excelente das coisas ruins que podem acontecer com as pessoas. Em uma série de eventos, Jó perdeu:

  • quinhentas juntas de bois e quinhentos jumentos, que foram roubados pelos sabeus, que também mataram os seus servos (1.14, 15);
  • sete mil ovelhas e mais alguns servos, que foram consumidos pelo “fogo de Deus” que caiu dos céus (v. 16);
  • três mil camelos, que foram roubados pelos caldeus, que também mataram os seus servos (v. 17);
  • todos os seus filhos (dez ao todo), quando um “vento muito forte” destruiu a casa onde estavam (vv. 18, 19);
  • sua saúde (2.7, 8);
  • e o apoio de sua esposa (vv. 9, 10).

Em um piscar de olhos a vida de Jó foi transformada por uma série de eventos que eu considero a lista de “coisas ruins que podem acontecer comigo”:

As coisas que acontecem como resultado das ações pecaminosas dos homens. Já que todos somos pecadores, todos fazemos coisas pecaminosas (Rm 3.10, 23). Dos pequenos aborrecimentos à violência brutal, nós temos a capacidade de causar terrível sofrimento ao nosso próximo. Coisas que se encaixam nesta categoria seriam: abandono, abuso, qualquer tipo de violência (que inclui atos terroristas), bullying, intimidação, falando mal dos outros, e assim por diante. Sabeus e caldeus levando suas coisas seriam exemplos disto, como também uma esposa que conclui, “amaldiçoe Deus e morra”.

As coisas que acontecem como resultado da maldição do pecado no mundo natural. Quando Adão pecou, não foi só a humanidade que sofreu. Toda a natureza (criação) foi amaldiçoada também (Gn 3). O caos no clima e no mundo natural é resultado disto. Um distúrbio ainda maior aconteceu quando o mundo foi abalado por um dilúvio cataclísmico mundial, que veio como punição dos grandes atos pecaminosos (veja a primeira categoria acima) nos dias de Noé (Gn 6-9). Romanos 8.18-24 até explica como a criação sofre (Paulo descreve o sofrimento como dores do parto) por causa da maldição do pecado, como também espera ansiosamente pelo dia que será libertada da corrupção. Esta categoria inclui todos os desastres naturais como furacões, terremotos, e coisas semelhantes, como também doenças e defeitos congênitos que demonstram a maldição do pecado na ordem natural da criação em geral. Na história de Jó, vemos o vento forte (e possivelmente o “fogo de Deus”, dependendo exatamente do que se tratava) e a doença de Jó como este tipo de acontecimento.

As coisas que acontecem como resultado de ação sobrenatural. Nós não estamos sozinhos no mundo. Há um âmbito espiritual que pode, de forma muito real, afetar nossa existência diária. Deus mesmo escolhe, às vezes, interagir no mundo que Ele criou. O vemos nas Escrituras agindo miraculosamente: quando Ele altera a ordem natural daquilo que criou, i.e. opera contrário às leis que Ele mesmo estabeleceu. Pense sobre as pragas do Egito (Ex 7-12). Ele também pode agir providencialmente: quando Ele age dentro das leis naturais que Ele estabeleceu, moldando os eventos para resultar em algo proposital. Meu exemplo favorito disto é a forma que Ele operou, por muitas gerações de homens, para que, no momento certo, Jesus nasceria de tal modo que cumpriria todas as profecias feitas sobre Ele. Deus pode agir destas formas tanto para beneficiar a humanidade, como para julgar o pecado. Além de Deus, existem os anjos: seres espirituais poderosos que Deus criou, que são capazes de alterar as leis naturais para realizar atos incríveis (ex. aquele único anjo que matou 70.000 israelitas com pestilência em 2 Sm 24). Satanás e sua hoste de demônios também são anjos, mas que operam contra Deus e o Seu povo (como na história de Jó). Nem Satanás, nem os seus anjos são iguais a Deus, pois também foram criados, mas quando Deus os permite agir, eles demonstram todo o poder que Deus concedeu aos anjos. Na história de Jó, nós vemos que as primeiras duas categorias acima podem ser manipuladas por um ser sobrenatural. Deus permitiu que Satanás agisse, usando as ações de homens pecaminosos e as forças catastróficas do mundo natural para afligir a vida de Jó. (Tecnicamente, então, isto significa que estas coisas se encaixariam aqui, nesta terceira categoria, mas como também acontecem sem ação sobrenatural, convém separá-los.)

As coisas que acontecem como consequência do pecado individual. Esta foi a acusação dos amigos de Jó quando viram a aflição dele. Eles interpretaram todos os eventos dos capítulos um e dois como atos de Deus contra o pecado na vida de Jó, sem saber que era justamente por causa da retidão de Jó que ele estava passando tais tribulações. Mesmo que não fosse o caso na vida de Jó, sabemos que pecado individual tem suas consequências. Quando pecamos, desencadeamos uma série de eventos que terão consequências. Algumas são bastante graves. Quando elas vêm, não devemos perguntar, “Por que Deus permite que isto aconteça comigo?”, já que é óbvio que nós mesmos somos a causa. Eu nem estou falando do julgamento direto de Deus. Isto seria uma ação sobrenatural, portanto, da terceira categoria acima. Por exemplo, vamos supor que você peca contra o homem, dirigindo sob a influência do álcool, com um índice acima do que permitido pela lei, e também dirigindo acima do limite de velocidade. Você também estaria pecando contra Deus 1) por entregar o seu corpo à influência e ao controle de uma substância (Ef 5.18); e 2) por desobedecer as autoridades civis que Deus tem colocado na sua vida (Rm 13.1-6). As consequências destes atos podem incluir: multas, prisão, um acidente que machucasse ou matasse você, um acidente que machucasse ou matasse outras pessoas, e assim por diante. As consequências de pecados individuais podem ser passageiras (como multas, que são pagas e vão embora), ou podem completamente alterar sua vida (como passar a vida em uma cadeira de rodas por causa do acidente).

A importância de fazer estas distinções não é necessariamente para descobrir o porquê das coisas acontecerem. É mais para entender como nosso mundo amaldiçoado pelo pecado funciona. O perigo é de ver pecado individual como a causa de tudo ruim, ou seja: “Deus está julgando estas pessoas com um desastre natural”; ou, “os ataques de 11/09 foram um julgamento contra o pecado dos EUA”; ou, “eu não posso andar hoje porque eu estava pecando contra Deus e Ele me aleijou”; e etc. Precisamos distinguir entre as consequências do pecado individual e as repercussões do pecado original do homem com sua maldição sobre a ordem natural da criação. É importante aprender que nós nem sempre saberemos porque algo aconteceu, e não precisamos saber. O essencial é responder biblicamente às nossas circunstâncias. Ninguém falou para Jó da história por trás dos bastidores, pelo menos não que nós saibamos. Mesmo assim, ele respondeu biblicamente às circunstâncias (na maioria do livro).

Vamos usar o terremoto do Japão como exemplo, ou, pouco tempo atrás, do Haiti. Porque aconteceu? Eu não sei. Quais são as explicações possíveis?

Ou

Deus estava julgando algum pecado nacional (se fosse o caso, nós só saberíamos se Ele nos revelasse),

ou

Deus permitiu que Satanás agisse destrutivamente usando um desastre natural (por motivos que só Ele sabe),

ou

Deus permitiu que um desastre natural acontecesse, uma consequência da maldição do pecado no mundo natural (a mais provável das opções),

ou

outra opção que ainda não considerei.

O xis da questão é que nós não sabemos o porquê. Mas então o que nós sabemos? Sabemos que Deus ainda está no controle absoluto (e é por isto que Ele está, de alguma forma ou outra, em todas as opções acima), e que Ele nos ama (Jo 3.16), e que Ele quer que sejamos reconciliados a Ele (2 Pe 3.9). Sabemos que todos os Seus filhos envolvidos no desastre O verão agindo por meio das suas circunstâncias para cumprir o Seu plano, e, em última analise, para agir para o bem deles (Rm 8.28). Sabemos que devemos amar os japoneses (e haitianos), e orar por eles, e ajudá-los materialmente no que for possível. Sabemos que amanhã, ou no próximo dia, talvez, outro desastre vai acontecer em outro lugar, outra bomba explodirá, outra guerra começará (as coisas na Líbia começaram enquanto eu escrevia este post), e pessoas voltarão a perguntar, “Onde está Deus?”

Ao passo que uma média de 150.000 pessoas a cada dia, eu oro que mais e mais pessoas perguntem, em um clamor do coração que abala suas almas, “Onde está Deus!?”

E, em reposta, os Filhos de Deus precisam está prontos com a resposta, e, em amor, precisamos falar-lhes o que Deus fala na Sua palavra, “Eu estou onde sempre estive. Eu não mudei… Lhes apresento o Meu Filho, que morreu para trazê-los de volta para Mim. Vocês estiveram longe tempo suficiente. Voltem para Mim.”

(Enquanto terminava este post, minha esposa me falou que apenas uma hora atrás outro terremoto de 7,1 graus atingiu o Japão, comprovando o que eu dizia sobre “outro desastre vai acontecer”. Alguma dúvida sobre onde Deus está? Leia o post novamente.)

 

A Cebola do Shrek

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É óbvio que a cebola não é, realmente, do Shrek. O fato é que a cebola já foi usada como ilustração na sociologia, psicologia, guias de auto-ajuda, e até para programar  computadores. E faz muito sentido: a cebola tem camadas, e, portanto, pode ser usada para descrever algo complexo ou estratificado. Eu chamo isto da cebola de Shrek porque Shrek fez com que isto fosse memorável para mim. Talvez você lembre da cena. O Burro tagarela está tentando convencer o Shrek de fazer algo digno do um ogro, e atacar diretamente o seu rival. Então o Shrek lhe explica a complexidade de ser um ogro:

Shrek: Pra sua informação, há mais do se imagina nos ogros.

Burro: Exemplo?

Shrek: Exemplo? Ok… Ah… Nós somos como cebolas.

[estende uma cebola para o Burro, que dá uma cheirada]

Burro: Fedem?

Shrek: Sim. Não!

Burro: Oh. Fazem você chorar.

Shrek: Não.

Burro: Oh, deixa eles no sol e eles ficam marrons e soltam aqueles cabelinhos…

Shrek: [descascando a cebola] Não! Camadas! As cebolas têm camadas, os ogros têm camadas. A cebola tem camadas, entendeu? Nós dois temos camadas.

Agora toda vez que penso em uma situação complexa que precisa ser examinada camada por camada, eu penso, “É a cebola do Shrek.” (Quem já fez aula de hermenêutica comigo sabe que é verdade.) E naturalmente, longo penso no Burro, dizendo, “Ah, vocês dois tem camadas. Oh. Sabe, nem todos gostam de cebolas. Que tal um bolo? Todo mundo adora bolo!” E, melhor ainda: “Sabe de outra coisa que todo mundo adora? Pavê!”

A minha mente funciona de um jeito muito estranho.

Mas porque estou falando da cebola do Shrek?

A nossa igreja tem feito uma série de mensagens recentemente sobre a suficiência das Escrituras, e o estudo trouxe à tona muitas coisas interessantes e reveladoras sobre pessoas e o seu entendimento da Bíblia. A mensagem central da série foi simples, mas ainda assim fundamental: Deus nos deu a verdade na Sua Palavra que é suficiente para a “vida e piedade” (2 Pe 1.3), e que é inspirada por Deus, portanto proveitosa para “ensino, repreensão, correção, e instrução em justiça”, com o propósito de fazer o cristão completo, e completamente capacitado para toda boa obra (2 Tm 3.16, 17). Obviamente, isto deveria ser uma verdade central na vida de qualquer cristão. Deus não criou o homem e o deixou para se virar, mas deu-lhe instruções suficientes de autoridade divina na Sua Palavra para que pudesse entender e viver neste mundo que Deus criou.

Permita-me um momento para uma explicação pessoal. Esta verdade é essencial para mim; é uma pressuposição fundamental que alicerça tudo que faço: ou a Bíblia é a absoluta Palavra de Deus, e portanto tem autoridade divina, ou é simplesmente mais uma grande coleção de literatura humana, tão valiosa quanto qualquer outra coisa que o homem já escreveu. Eu entendo o risco de basear toda a minha estrutura em uma verdade só, mas é um “risco” que corro com prazer. Sempre penso nas palavras maravilhosas de C.S. Lewis, “Eu acredito no cristianismo como acredito que o sol nasceu: não só porque o vejo, mas porque por ele vejo todas as outras coisas” (citado online, aparentemente de um artigo chamado (“A Teologia é Poesia?”, 1945). Ele falou do cristianismo como um todo, mas é óbvio, e até mais apropriado, dizer isto sobre as Escrituras. A Bíblia é o nosso sol espiritual, porque não só a vemos, mas por causa dela, vemos todas as outras coisas.

Então, quando eu arduamente compartilho esta verdade que para mim é tão básica e necessária, e escuto respostas que refletem uma ignorância completa das coisas mais básicas da Bíblia (como, por exemplo, onde se encontram os Evangelhos), ou histórias de experiências pessoais com Deus (que contrariam a Palavra de Deus), ou canja de galinha para alma (ou seja, aquelas historinhas bonitinhas e rasas), ou o que o autor Paul Tripp chama de uma leitura das Escrituras do “copiar e colar” (Instrumentos, p. 48), eu vejo que estou de cara com uma cebola do Shrek: reconheço que há muitas e muitas camadas para descascar antes que esta verdade atinja o cerne da cosmovisão destas pessoas.

Eu uso a palavra “ignorância” várias vezes neste post, então gostaria de explicar uma coisa sobre o termo. Eu não o uso como insulto, ou para ofender. Eu me lembro de ficar ofendido no segundo grau (ensino médio para vocês, mais jovens), em uma aula de química. Tinha feito um erro de cálculo muito óbvio, e falei, “É, eu sou burro mesmo.” O professor, prestativo, me corrigiu, “Você não é burro; é ignorante.” Ai! Essa doeu. Mas ele estava certíssimo. A minha ignorância–a falta de conhecimento sobre o assunto–havia levado ao erro de cálculo, que graças a Deus, não levou a uma explosão. Era aula de química, afinal. Descobrindo que você é ignorante sobre um assunto não deve ofendê-lo; deve incentivá-lo a querer saber mais.

Vamos começar com a camada da ignorância geral da Bíblia–pessoas que simplesmente não conhecem nada a Palavra de Deus. Não estou falando de crentes novos, mas de crentes estagnados. Entraram nessa, Deus sabe como (digo isto com todo respeito a Deus), e agora frequentam aos cultos e eventos da igreja sem base alguma. Sua dieta espiritual da Palavra consistente em beliscadinhas de coisas que ouviram ou leram; das migalhas que recebem aleatoriamente no dia a dia. Não discriminam o que consomem, e portanto sua saúde espiritual está em crise. Não podem nem ser protegidos pelos pastores do seu rebanho, pois são eles que visitam os lobos regularmente por conta própria. A esta camada de ignorância, você apresenta o conhecimento bíblico. Você enfatiza a leitura da Palavra de Deus.

A camada sai, revelando outra camada de ignorância: pessoas não sabem como ler a Bíblia. Vejam o que Paul Tripp diz:

Muitos cristãos simplesmente não entendem o que a Bíblia é. Muitos acham que ela é uma enciclopédia espiritual: o catálogo completo de Deus sobre os problemas humanos, associado á lista completa de respostas divinas. Se você abrir na página certa, poderá encontrar respostas para qualquer conflito. Uma variação mais sofisticada vê a Bíblia como um livro texto de teologia sistemática, um esboço de tópicos essenciais que devem ser dominados para viver e pensar da maneira de Deus. Nos dois casos, temos a tendência de oferecer uns aos outros, partes isoladas das Escrituras (um mandamento, um princípio, uma promessa) que parece se encaixar na necessidade do momento. Pensamos que ministrar a Palavra é um pouco mais que um sistema espiritual de copiar e colar. (Instrumentos, 48).

Ele continua, explicando que precisamos de uma visão completa das Escrituras, uma visão que compreende a inteireza da história da redenção de Deus e coloca os trechos e versículos dentro deste contexto. Pessoas presas na primeira camada (da ignorância geral), que estão imaginando por onde começar, vão se espantar com esta informação. “O quê? Eu tenho que ler a Bíblia toda?” Calma. Passo pequenos primeiro. Mas sim, eventualmente, você precisa ler tudo, sim. A beleza das Escrituras não deveria ser reduzida ao artesanato de uma feira hippie–uma coleção de frases bonitinhas bordadas em toalhas, pintadas em plaquinhas ou enviadas em emails para nos ajudar a sobreviver o cotidiano.  Deveria ser admirada na sua maravilhosa e coesa inteireza, com todas as suas conexões, como Monet, pintando uma obra em uma escala muito maior do que já trabalhava. De perto, vemos pontinhos e cores da verdade de Deus, mas assim que aprendemos mais, e damos alguns passos para trás, vemos a mão de um infinito Deus, todo sábio, todo poderoso, juntando coisas aparentemente aleatórias em um plano mestre épico e eterno que deve nos maravilhar. Esqueça o 3D. Coloque uns óculos onidimensionais e aprecie esta obra prima de Deus.

Eu poderia continuar descascando a cebola, mas não vou. Basta apenas dizer que há camadas de experiências pessoais que são valorizadas acima da verdade de Deus; camadas de informações falsas de pessoas bem-intencionadas e outras que querem nos enganar; camadas de perspectivas pessoais e reflexões egoístas e autocêntricas que cancelam aquilo que Deus está nos dizendo; camadas de preguiça e falta de disciplina. Estão aí, na minha vida e sua, e tem que ser descascadas para chegar ao cerne da nossa cosmovisão.

O bom de tudo isto é que funciona da mesma forma que a salvação. Na salvação, entendemos que por mais que descasquemos a cebola, nunca vamos retirar camadas suficientes para remover o que nos separa de Deus. É Deus que tem que penetrar todas elas, e nos transformar de dentro para fora, de mudar o coração. O resultado disto é que algumas camadas caem sozinhas, e outras se tornam mais fáceis de retirar. Quando se trata de conhecer a Palavra de Deus, a mudança não é diferente. Deus está, novamente, mirando os nossos corações. Sim, há muito para aprender sobre como ler e entender a Bíblia, mas você não pode errar começando assim: leia sua Bíblia. Aproxime-se dela com a atitude de querer aprender o que Deus tem para dizer para você, e não o que você quer ouvir Deus falar. Afinal, que melhor maneira há para cortar as camadas da cebola do que uma espada de dois gumes? (Hb 4.12)

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Paul David Tripp: Instrumentos na Mãos do Redentor: Pessoas que Precisam Ser Transformadas Ajudando Pessoas que Precisam de Transformação. Ed. NUTRA, SP: 2009.

Ah! Tá bom assim.

Quando concluímos que algo “tá bom assim”, estamos dizendo, na verdade, que não está. Pense só por um momento de como você usa a expressão. Você diz “tá bom assim” quando tem feito um trabalho maravilhoso? Claro que não. Reservamos a expressão para aqueles momentos quando temos nos esforçado para fazer algo, mas não pretendemos fazer mais. Depois de uma rápida avaliação do que seja o trabalho malfeito, julgamos que, “Ah! Tá bom assim”.

Anos atrás, quando entregava jornais para pagar o seminário, entregava, em média, quinhentos jornais por dia. Era uma corrida contra o relógio, o tempo, e os clientes mesquinhos que queriam o seu jornal perfeitinho. Nos dias miseravelmente chuvosos, quando já estava atrasado, era fácil ver um jornal voar pelo ar, deslizar pela calçada molhada, e quase desaparecer debaixo de um arbusto, deixando apenas uma pontinha visível, e pensar, “Ah! Tá bom assim. Na certa, eles encontram.” Mas não estava tão bom assim. Poderia estar melhor. E é aqui que vemos um elemento chave do porquê que nós achamos que certas coisas estão “bem assim”: por que corrigá-las dá mais trabalho; talvez até seja necessário começar tudo de novo. No caso, teria que sair do meu carro (Sim, entregava jornais no carro. Não se entrega quinhentos jornais de bicicleta! Nem nos filmes!), correr até o jornal, e colocá-lo num lugar mais visível. Num lugar que não ficaria ensopado. Não poderia dizer-se o mesmo de mim quando chegasse de volta ao carro.

Estou fugindo do assunto.

“Tá bom assim” sugere que você não fez o seu melhor, só fez o suficiente para achar que está bom. Também sugere que você não se importa em fazer o seu melhor, mas que ficará satisfeito em deixar passar com um “tá bom assim”.

Temo que muitos cristãos hoje acham que aquilo que estão fazendo para Deus está bom do jeito que está. “Ah! Tá bom assim. Deixa.” Isto é meio estranho, pois a minha experiência é que a maioria de nós acredita que poderíamos fazer melhor. (De fato, até hoje só conheci uma pessoa que disse, “Não, não posso fazer melhor. Estou fazendo o melhor possível”. Infelizmente, ela estava sendo muito generosa consigo mesmo.) Mas além desta alarmante exceção, os cristãos que eu conheço diriam que, obviamente, sempre há mais que pode ser feito, e ser feito de forma melhor. Então por que parece que tantas destas mesmas pessoas (inclusive eu) se contentam em fazer algo que “tá bom assim”?

Considere a nossa salvação. Quais dos nossos esforços foram suficientemente bons para Deus nos aceitar? Será que alguém poderia juntar todas as maiores e melhores obras de altruísmo e solidariedade conhecidos pelo homem, colocar-se diante do nosso Criador e dizer, “E aí, Deus. Tá bom assim?” Não é verdade que a salvação de nossas almas exigiu que reconhecêssemos que éramos incapazes de fazer algo suficientemente bom? Todos estávamos longe da glória de Deus (Rm 3.23). É por isto que Cristo teve que se oferecer em nosso lugar. Nós simplesmente não éramos suficientemente bons.

E então, se os nossos melhores esforços não eram o suficiente, por que devemos nos esforçar agora? É porque os nossos esforços depois da salvação são diferentes do que eram antes da salvação. Vários trechos falam que somos salvos para as boas obras, mesmo que certamente não por meio delas (cf. Ef 2.8-10; Tt 2.11-14; Ti 2.17, e assim por diante). Havendo recebido a salvação pelo supremo sacrifício do único que podia fazer tal coisa, Jesus Cristo, nós somos encorajados, exortados, e ordenados a agir, impelidos pela nova habilidade de sermos como Ele é (e até isto só conseguimos pelo Seu Espírito. cf. Ga 3.3).

E isto não serve só para nós fazermos algo que “tá bom assim”. Refiro-me a Romanos 12.1, “Portanto, irmãos, rogo-lhes pelas misericórdias de Deus que se ofereçam em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; este é o culto racional de vocês”. Quero ressaltar duas coisas deste versículo:

Primeiro, Paulo implora aos leitores que apresentem os seus corpos como sacrifícios, vivos, santos, e agradáveis a Deus. O sacrifício não dava apenas uma porção de si mesmo, e depois saía, dizendo, “Ah, tá bom assim”. Não, o sacrifício era consumido pelo altar, senão pelos os sacerdotes. Entendam: o sacrifício era oferecido completamente a Deus. Paulo não está sugerindo que nos rendamos pela metade, e sim, inteiramente. E o fato que a nossa oferta deve ser santa e aceitável a Deus significa que Ele não procura no sacrifício apenas quantidade (eu dei tudo), mas qualidade (eu dei o meu melhor–pelos padrões dEle!).

Em segundo lugar, Paulo diz que isto é o seu “culto racional” (literalmente, “a sua adoração verdadeira”). Deus não está procurando por pessoas que carregam uma lista de “coisas que faço por Deus” e chegam a conclusão, “Estou fazendo o suficiente. Tá bom assim”. A verdadeira adoração exige que nós ofereçamos tudo que há em nós (sacrifício) para ser consumido na Sua obra. E, por sinal,  a chave de como fazer isto está no próximo versículo, que explica que sacrifícios vivos não se conformam ao padrão deste mundo, mas são transformados para viver de acordo com o padrão de Deus (Rm 12.2).

Tudo se resume assim: na sua caminhada cristã, seja no seu estudo da Palavra de Deus, na sua comunhão com outros cristãos, no seu testemunhar das maravilhosas novas para aqueles que não conhecem a Cristo–o que seja, você nunca deveria contentar-se em dizer, “Ah, tá bom assim”.

Somos chamados para sermos sacrifícios vivos, santos, e aceitáveis: menos que isto, simplesmente não tá bom assim.

Os Penetras de Hebreus

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Hebreus 11 é muito conhecido por ser o rol de honra da fé. Começa com esta introdução sobre a natureza ou essência da fé:

“Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos. Pois foi por meio dela que os antigos receberam bom testemunho. Pela fé entendemos que o universo foi formado pela palavra de Deus, de modo que aquilo se vê não foi feito do que é visível” (vv. 1-3).

Tendo explicado a fé desta forma, o autor de Hebreus dá uma lista de pessoas, na qual ele cita quinze nomes, e faz referência a muitos outros do versículo 32 em diante. Uma frase que sempre me surpreende e me inspira está no v. 38, “O mundo não era digno deles”. O autor dá um supremo elogio: tamanha era a fé deles, que o mundo não era digno de tê-los aqui. E o mundo reagiu à sua presença. A sociedade atacou a estas pessoas por meio de torturas e morte. Estes são o heróis da fé.

Mas, espera aí! Que heróis são estes? A lista está cheia de mentirosos, assassinos, prostitutas, covardes. Quatro nomes sempre pulam da página quando leio este trecho: Gideão, Baraque, Sansão, e Jefté. Estes sempre foram os heróis da escola dominical. Mas observem o retrato honesto que Deus pinta de suas vidas:

Gideão venceu os midianitas, mas se escondeu quase do começo ao fim de sua história; lutou contra a idolatria mas acabou voltando para ela no final (cf. Juízes 6-8). Baraque ganhou uma grande vitória sobre Sísera, mas perdeu a honra de matá-lo para uma mulher porque recusou-se a liderar os exércitos sem a ajuda de Débora (cf. Juízes 4-5). Sansão foi um homem fisicamente forte mas moralmente fraco, cujas façanhas de força quase sempre serviam para tirá-lo das enrascadas nas quais seu amor por mulheres proibidas o colocava (cf. Juízes 13-16). E Jefté foi um grande líder, desprezado por ser filho de prostituta, famoso por ter feito um juramento impensado que custou a vida da sua filha (cf. Juízes 11-12).

O motivo deste post não é a difamação destes homens. Longe disto! Deus falou honestamente sobre as ações deles, fossem boas ou más, e ainda assim, os colocou nesta lista dos grandes da fé. Eu creio que nós precisamos abraçar esta honestidade para entender uma valiosa lição, que é o motivo deste post: quando Deus planeja algo, Ele cumpre, mesmo quando Ele só tem instrumentos falhos para a obra. A primeira vista, parece que estes homens são penetras da festa da fé de Hebreus 11. “Baraque? Você por aqui? Quem te convidou, homem?” Mas quando entendemos que as pessoas nesta lista estão sendo elogiadas por sua fé, entendemos que, mesmo com as suas falhas, estas pessoas demonstraram uma fé do qual o mundo “não era digno”.

Isto não é uma desculpa para mediocridade entre cristãos. “Ah, se Deus aceitou a fé rasa de Gideão, então eu tô bem”. Não, a ideia não é esta. A ideia é de se esforçar para remover os empecilhos para uma fé maior do que esta. De ser um José, um Samuel, um Daniel (cujo nome não está na lista!); ou, vocês mulheres, de ser uma Débora, uma Rute, uma Maria (cujos nomes também não estão na lista)–pessoas das quais a Bíblia não fala de falhas morais, de pecados graves, das quais Deus não escolheu dizer algo negativo.

A ideia é de ver esta “nuvem de testemunhas” como exemplo e inspiração para o passo da fé que nós precisamos tomar. De livrar-nos “de tudo o que nos atrapalha e do pecado que nos envolve, e [correr] com perseverança a corrida que nos é proposta, tendo os olhos fitos em Jesus, autor e consumador da nossa fé. Ele, pela alegria que lhe fora proposta, suportou a cruz, desprezando a vergonha, e assentou-se à direita do trono de Deus” (Hb 12:1-2).

A grande verdade é que nenhum de nós merece ser elogiado por Deus. Mas pela Sua graça, mediante a nossa fé Nele, no Seu plano, e no Seu Filho, nós somos capazes de viver em um nível acima da mediocridade, participar dos planos de Deus para a humanidade, e talvez morrer por isto. Agora, olhos fitos em Cristo, a corrida não terminou!

O Email que o Diabo Amassou.

Eu sei que já escrevi sobre a importância de fontes confiáveis quando se trata de emails que passam e repassam pela internet, mas esta não podia deixar passar. Recebi recentemente não uma, mas duas vezes, esta mensagem (creio que via o Orkut) sobre a uma suposta conversa entre Satanás e Jesus:

Um dia Satanás e Jesus estavam conversando. Satanás acabava de ir ao Jardim do Éden, e estava fazendo graça e rindo, dizendo:

— Sim senhor. Acabo de apoderar do mundo, cheio de gente lá embaixo. Eu armei a eles uma armadilha, e usei uma isca que sabia que não poderiam resistir. Caíram todos!

— O que vai fazer com eles? Perguntou Jesus.

— Ah, vou me divertir com eles. Respondeu Satanás. Vou ensiná-los como se casar e se divorciar, como odiar e abusar um do outro, a beber e fumar, e, é claro, os ensinarei a inventar armas e bombas para que se destruam entre si. Realmente vou me divertir!

— E o que farás quando se cansar deles? Perguntou Jesus.

— Ah, os matarei. Disse Satanás com os olhos cheios de ódio e orgulho.

— Quanto quer por eles? Perguntou Jesus.

— Ah, você não quer essa gente. Eles não são bons. Porque os salvaria? Você os salva e eles te odeiam. Vão cuspir em seu rosto, vão te maldizer e te matarão. Você não quer essa gente!

— Quanto? Perguntou novamente Jesus.

Satanás olhou para Jesus e sarcasticamente respondeu:

— Todo o seu sangue, suas lágrimas e sua vida.

Jesus disse:

— FEITO!

E assim foi pago o preço.

Eu até imagino a pessoa ou as pessoas que escreverem esta mensagem pensando, “Cara, o final arrasou. ‘E assim foi pago o preço.’ Uau, até me dá calafrios, e foi eu que escrevi!” Então o autor adicionou uma série de perguntas que servem para nos pesar a consciência para que repassemos mensagens como esta, e não “milhares de mensagens com piadinhas pelo e-mail, as quais se espalham como pólvora.” Eu também imagino as pessoas de boas intenções que me repassaram este email pensando como é boa esta “verdade.”

Mas, peraí, gente! Por favor, parem de ler mensagens como esta, e leiam as suas Bíblias! Esta mensagem está cheia de erros que a mais simples leitura da Bíblia deveria ressaltar. Sim, eu entendo a ideia de criar histórias para ilustrar conceitos bíblicos. Afinal, Jesus Cristo usou parábolas para falar de verdades eternas. E nós temos histórias, teatros, poesias, etc., que fazem o mesmo, mas estes têm que refletir verdades bíblicas. Tudo bem, conte uma história fictícia sobre Jesus conversando com Satanás no Éden, mas pelo amor de Deus, e de Cristo, e das Escrituras, coloquem um diálogo coerente com as Escrituras!

Mas, pastor, qual o problema tão grave com esta mensagem?

Esta história não reflete o que a Bíblia diz sobre a natureza de Satanás. Não pretendo dar um resumo da história toda de Satanás, e sim apenas ressaltar algumas coisas pertinentes a esta história. Vejam: só porque Satanás enganou ao homem, o que levou a sua desobediência (o pecado original), não significa que passamos a pertencer a ele. Este conceito é errado por pelo menos dois motivos: 1) Satanás não é igual a Deus. Ele é um ser criado, da mesma maneira que nós somos seres criados. Ele se opõe a Deus, mas não é, e nunca será, igual a Deus. A realidade é que o bem e o mal não batalham como iguais, como muitas religiões insistem. O bem, que não é um conceito ou uma força mística, e sim um Deus vivo e eterno, é infinitamente maior que o mal, que, por definição bíblica, é aquilo que se opõe a Deus, que inclui Satanás, mas não se limita a ele. 2) Satanás não é dono de ninguém. Quando a Bíblia diz algo como, “Vocês pertencem ao pai de vocês, o Diabo” (João 8:44), não está dizendo que pertencemos no sentido que ele é o nosso dono, e só voltar a pertencer a Deus se formos comprados dele. Não, no contexto estava falando de parentesco. Os religiosos estavam declarando seu relacionamento com Deus a partir de serem filhos de Abraão, e Jesus estava esclarecendo que nada mais eram do que filhos do pai que obedeciam, ou seja, Satanás. Nós somos, sim, escravos do pecado (Ro 6:20), e enquanto Satanás mantém uma certa posição acima daqueles que se opõem a Deus, ele é um condenado acima de outros condenados: ele é apenas um capataz entre os escravos do pecado. Afinal de contas, o homem que persiste no pecado e a rebelião contra Deus (que não aceita a salvação gratuita de sua alma na obra completa de Cristo na cruz) irá compartilhar um juízo que foi, primeiramente, “preparado para o Diabo e os seus anjos” (Mt 25:41). Satanás é poderoso, sim. Ele é o acusador dos santos, ele está em uma campanha de destruir as vidas do maior número de pessoas possíveis, e de levar consigo no julgamento o maior número de almas (não como dono, mas como miseráveis companheiros na sua ruína e juízo final). Mas não é, e nunca será, aquele do qual Deus tem que comprar as almas das pessoas.

Esta história não reflete o que a Bíblia diz sobre a natureza de nossa salvação em Cristo. A ideia de Jesus “pagar” pelos pecados levou a uma conclusão aparentemente lógica de que se alguém pagou, pagou para alguém. É uma ideia bastante capitalista. Mas a Bíblia não fala de capitalismo espiritual. Pensem sobre isto: se eu vir que o meu filho está na rua, prestes a ser atropelado, e, na tentativa de salvar o meu filho, me jogar na frente do carro, lançando o meu filho longe do perigo, e levando todo o impacto, poderia se dizer que paguei um alto preço pela salvação do  meu filho. Mas paguei para alguém? Não, porque a expressão não significa uma troca de serviços ou moeda, e sim um alto custo. Nosso pecado nos condena à morte eterna, à separação de Deus por toda eternidade. Para superar esta deficiência espiritual causada pelo pecado, Deus diz que é necessário a morte. E não só a morte, mas o castigo eterno. E mesmo assim, o pecado é tão grande, tão profundo, que nunca seria pago, nem que fosse por toda eternidade. Quem poderia “pagar” este preço? Apenas um, e este é Jesus. Ele, por ser o infinito Deus, por ser o homem sem pecado, o segundo Adão que obedeceu em tudo a Deus Pai, e só Ele, pôde se oferecer como o sacrifício perfeito. Pagou para Satanás? Que nada! Já vimos que Satanás é outro condenado! Ele pagou no sentido que falei, de oferecer, em nosso lugar, o que nós não podíamos quitar nem que tivéssemos toda eternidade para fazer prestações. Tanto que na Bíblia, estes termos de pagar, comprar, etc., são usados como metáforas do mercado de escravos: nós, os escravos do pecado (não almas pertencentes ao Diabo), fomos comprados da escravidão.

E mais uma coisa: esta história não reflete o que a Bíblia diz sobre o plano de Deus para a nossa salvação. Existem muitos versículos que falam sobre o plano de redenção de Deus. De fato, a Bíblia toda é a história da redenção do homem (claro, centrado em Cristo, para a glória de Deus)! Mas leiam o que Paulo diz a nós por meio da carta aos Efésios (1:2-14):

A vocês, graça e paz da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo. Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo. Porque Deus nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença. Em amor nos predestinou para sermos adotados como filhos, por meio de Jesus Cristo, conforme o bom propósito da sua vontade, para o louvor da sua gloriosa graça, a qual nos deu gratuitamente no Amado. Nele temos a redenção por meio de seu sangue, o perdão dos pecados, de acordo com as riquezas da graça de Deus, a qual ele derramou sobre nós com toda a sabedoria e entendimento. E nos revelou o mistério da sua vontade, de acordo com o seu bom propósito que ele estabeleceu em Cristo, isto é, de fazer convergir em Cristo todas as coisas, celestiais ou terrenas, na dispensação da plenitude dos tempos, Nele fomos também escolhidos tendo sido predestinadosconforme o plano daquele que faz todas as coisas segundo o propósito da sua vontade, a fim de que nós, os que primeiro esperamos em Cristo, sejamos para o louvor da sua glória. Quando vocês ouviram e creram na palavra da verdade, o evangelho que os salvou, vocês foram selados em Cristo com o Espírito Santo da promessa, que é a garantia da nossa herança até a redenção daqueles que pertencem a Deus, para o louvor da sua glória.

Sem entrarmos naquela eterna discussão teológica sobre a predestinação, quero ressaltar apenas uma verdade da qual está tão saturado este texto que praticamente sangra: a nossa salvação é o plano de Deus em Cristo desde antes da criação. Termos como escolher, predestinar, propósito, vontade–todos estes apontam para o fato que Deus sabia o que ia acontecer, e já havia antes da criação planejado a história da nossa redenção em Cristo.

Esta história do Orkut coloca todo o poder nas mãos de Satanás, e até coloca nas suas mãos o plano para nos redimir, pois é ele (na história) que decide o preço da nossa salvação, e Jesus (da história) é fraco (por não conseguir nos manter do engano), ingênuo (por querer pessoas tão pecadoras), e impotente (tendo que aceitar o preço cobrado por Satanás).

Deus nos livre de mensagens como esta! Deus nos guarde na Sua Palavra para termos o discernimento para ver o erro de tais mensagens, e de não ceder a pressão de repassá-las. Quer passar algo útil por email, pelo Orkut, pelo Facebook, etc.? Passe e repasse a Palavra de Deus. E se for algo secundário–uma história, uma peça, uma foto, ou que seja–que seja algo coerente com a única fonte que tem autoridade divina, a Palavra de Deus (1 Tim. 3:16-17).

Casamento em Crase

Esse a ‘tem crase’?

Pergunta meio marota esta. Sim, porque o a não tem crase em lugar nenhum. Crase é o nome do fenômeno de fusão de dois aa. O acento grave, hoje, só se usa para indicar a crase; portanto, basta perguntar se o a tem acento grave.

A crase é um fenômeno que ocorre independentemente da nossa vontade. Quando alguém, inadvertidamente, não acentua o a craseado, isso não significa que o fenômeno deixou de ocorrer. O fenômeno ocorreu, apenas deixou de ser indicado. De outro lado, quando se coloca o acento no a desnecessariamente, não se indica absolutamente coisa nenhuma, porque, se o fenômeno não se dá, não será por nossa boa-vontade que ele forçosamente se dará.

(Luiz Antonio Sacconi, “Não Erre Mais” 28a edição, Ed. Harbra, p. 130)

Este artigo sobre a crase abriu os meus olhos para a perspectiva equivocada que muitos têm quanto à crase. Por mais interessante que seja, para muitos realmente não interessa se crase é acento ou fusão; vão continuar perguntando se o “a tem crase” de qualquer forma. Mas o que realmente me marcou sobre este artigo é um paralelo muito interessante que podemos fazer entre esta questão de gramática e a questão de casamento na sociedade moderna. Em muitos países, legisladores estão considerando, e até aprovando, leis que reconhecem como casamento a união de parceiros homossexuais. A pergunta que estão tentando responder é “este casamento é válido?” Eu digo que se aceitarmos a definição bíblica do casamento, esta pergunta faz tão pouco sentido quanto a pergunta sobre a crase.

Vejam só: se aceitarmos a Bíblia como a palavra de Deus (entenda—se você não aceita este ponto de partida, então o resto de argumento não fará a menor diferença), então Deus é o autor não só da criação, mas do homem, e do casamento. É o plano Dele para o relacionamento mais básico da humanidade; é átomo do qual a matéria da sociedade é formada. E quem define o que é um casamento é Deus, e Ele criou e instituiu uma união de um homem e uma mulher numa aliança para o resto das suas vidas mortais. Isto séculos antes de existir cartório algum para aprovar ou não um casamento. Como a crase tem uma definição no dicionário, o casamento tem sua definição na Bíblia. Se aceitarmos ou não, crase acontece ou não acontece, independentemente do nosso reconhecimento; se aceitarmos ou não, casamento acontece ou não acontece, independentemente do nosso reconhecimento (individual ou civil). Ou seja, não adianta perguntar se “o casamento homossexual é válido?” pois pela definição se é homossexual, nem seria casamento, muito menos válido.

E não é só união homossexual, não, viu? Existem muitas formas de união humana que faltam os elementos necessários para serem definidas como casamento, mesmo que sejam reconhecidas e aprovadas pela autoridades civis ou a sociedade. Existem outras que são irregulares perante a lei civil, mas mesmo assim constituem um casamento legítimo (Deus sendo acima de qualquer governo).

Temos que entender que se o nosso governo optar por reconhecer estas uniões, não estarão “mudando a definição do casamento” como alguns dizem; simplesmente estarão dando aprovação humana a uma união humana. Como também se a partir de hoje o governo anulasse todos os casamentos no cartório, estes não deixariam de ser casamentos! Por quê? Porque quem define isto é Deus, e não o ser humano.

Não será pela força de nossa vontade que o casamento vai mudar de definição. Como acontece em qualquer área da vida, o que muda é a nossa aceitação do plano de Deus. Da mesma forma que aqueles que usam o acento grave de forma incorreta cometem um erro de gramática; aqueles que definem o casamento à sua maneira cometem um erro: este erro também tem nome, queira ou não. Deus define isto como o pecado.

Agora, me ajudem com outra pergunta: Este gato na minha mão, é rottweiler ou pastor alemão?

Pai

Uma coisa interessante da Bíblia é que temos poucos bons exemplos de pais. Pelo contrário, temos Adão, o primeiro pai, criando os filhos num mundo amaldiçoado pelo seu pecado contra Deus; temos Jacó mostrando preferência por José; ou Eli criando filhos que morreriam por causa da sua desobediência no sacerdócio. Interessante é que os melhores exemplos que temos–Abraão e José–não pareciam ser muito bons. Afinal de contas, Abraão quase matou o seu filho, e José . . . bom, José nem era pai do Filho que conhecemos tão bem. Mas estes dois se destacam para mim pela mesma característica: ambos colocaram sua obediência a Deus Pai acima de qualquer consideração.

No capítulo 22 de Gênesis, lemos que Deus mandou que Abraão sacrificasse seu filho Isaque. Era um pedido absurdo–sacrificar o filho que tanto queriam, e que Deus havia prometido e de maneira miraculosa dado a pais idosos. Um pedido absurdo, sim, mas com um propósito único: provar a fé de Abraão. O histórico de Abraão era de altos e baixos na fé, ora deixando tudo que conhecia pela fé, ora confiando na própria força, ou na própria astúcia. E não creio que a prova era para Deus ver a fé de Abraão, mas para nós, caros leitores. No meio de uma vida muito, mas muito humana, Abraão pôde se destacar como o pai que tinha tanta fé em Deus, que não pouparia nem o filho, acreditando que Deus poderia trazê-lo de volta à vida novamente. E por estranho que pareça, se Abraão não mostrasse esta disposição, não teria sido um bom pai para Isaque. Graças a Deus que Ele não pede este tipo de prova para nós hoje, mas a lição ainda vale: se vamos ser o melhor pai possível para os nossos filhos, Deus tem que estar em primeiro lugar.

Deus sabia que não iria deixar Abraão sacrificar Isaque, pois tinha planos de oferecer o seu único Filho, não só no lugar de Isaque, mas no lugar de todos nós. Para isto, Deus pediu a participação de um pai convidado–José. Para gerar um filho, Deus Pai não precisava de um pai humano, mas providenciou para Jesus um pai adotivo que o criaria para que crescesse “em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e dos homens” (Lucas 2:52). Não pense que foi fácil, não. Já pensou? Ser noivo, feliz da vida com planos de casamento, e descobrir que sua noiva está grávida? E pior, ela está falando que é de Deus, com anjo como testemunha? Fazer o quê? Mas quando instruído pelo anjo do plano de Deus, José demonstrou que mesmo não sendo o genitor, obedeceria para pudesse ser o pai. Não temos mais da história dele, e mesmo assim, ele se destaca como sendo um bom exemplo para nós. Por quê? Porque ele se dispôs a fazer a vontade de Deus Pai.

A verdade é que a falta de bons exemplos, tanto na Bíblia quanto na vida, não nos impede de ser bons pais. Isto porque achamos o maior e melhor exemplo em Deus. Ele  é pai primeiro por nos criar, mas já que nós nos separamos Dele pelo pecado, Ele escolheu ser nosso pai de outra maneira. Ele entregou o seu único Filho, Jesus Cristo, no nosso lugar, para nos reconciliar, nos adotando como filhos. Se nós colocarmos as nossas vidas como pais nas mãos deste Pai, seguindo os seus conselhos e obedecendo as Suas normas, não tem erro–nós vamos ser pais dignos de entrar na história ao lado de tais como Abraão e José.

Feliz Dia do Pais.

(Artigo no jornal IBABI em Foco, dia 8 de agosto, 2010)

Tiago 3:1-12

Série de mensagens de julho na IBABI

Os membros da minha comunidade, a IBABI em Jacareí, SP, sabem que estamos fazendo uma série no mês de julho chamada “Poucas Palavras, Muitas Lições,” do livro de Tiago. No último domingo, preguei de Tiago 3:1-12, que fala da nossa obediência na área de controlar a língua. Em ocasiões passadas algumas pessoas têm pedido o arquivo Powerpoint ou os slides da minhas mensagens, coisa que não pude dar porque uso um programa incompatível com Windows, o Keynote (para computadores Mac, da Apple). Por isso resolvi disponibilizar arquivos PDF baseados nos slides das minhas apresentações.

Vocês podem clicar aqui para baixar o arquivo de domingo, dia 25 de julho. Espero que seja abençoador na sua semana.

Genérico

O termo “genérico” é um que todos usamos para descrever aquilo que não é de marca. Este sentido é muito conhecido no mundo dos medicamentos genéricos, que têm a mesma composição ativa dos medicamentos caros das marcas das grandes farmacêuticas. Sei que em alguns lugares, outros produtos–por exemplo, alimentos–também vem em forma genérica: só o nome do produto, e não uma marca.

Nos últimos anos “genérico” também tem se tornado sinônimo daquilo que é pirateado. Já ouvi várias vezes a frase “mas pastor, o uso do genérico tá liberado no Brasil” como desculpa para o uso de DVDs pirateados. Neste sentido, o uso de “genérico” é tão falso quanto a própria pirataria, pois o sentido normal fala de um produto com rótulo diferente, mas com conteúdo igual; na pirataria o produto é o falso, ou o inferior, mas com o rótulo igual, justamente para enganar, ou pelo menos aparentar ser o verdadeiro.

Mas isto não é uma mensagem contra a pirataria em si, mas um alerta contra uma pirataria espiritual. É um alerta sobre cristianismo genérico. É um espiritualismo que aparenta ser evangélico, ou cristão, mas que de cristão ou evangélico só tem rótulo. Fala a linguagem, faz a conduta, carrega a Bíblia, mas não contém a mensagem essencial: Jesus Cristo como salvador exclusivo do homem. E como qualquer coisa pirateada, há aqueles que participam cientes do engano, e outros que são enganados sem saber. O trágico deste cristianismo genérico é o fato que o ingrediente ativo que falta é justamente aquele que transforma. Pois sem Cristo não há salvação. Só há o que todo mundo tem de sobra: religião.

Estive num concerto evangélico recentemente, e vi este tipo de cristianismo em prática. Não é que o cantor e sua banda estavam tentando enganar o povo. Não estou tentando denegrir o ministério deles. Mas me deu uma vontade tão grande de berrar em voz alta, “Cadê Jesus, gente?!” O concerto todo era Deus pra cá, Deus pra lá, mas Jesus só apareceu numa forma críptica como “Yeshua” numa frase só, ou como pontuação na letra das músicas: “Ó Jesus!” A mensagem clara do evangelho–a necessidade da salvação por causa da desobediência humana, a reconciliação dos homens a Deus pelo sacrifício perfeito de Cristo na cruz, a promessa de vida eterna–estas verdades simplesmente não foram ditas, tanto na música, como na mensagem falada. Ouvimos que Deus nos ama muito, que Deus quer nosso bem, que Deus é Pai; mas do Filho, do salvador que nos traz em comunhão com o Pai, do ponto crucial–a cruz–nada. Isto é cristianismo genérico. Sem questionar a situação espiritual do cantor e seus músicos, posso falar que sua mensagem não continha nada que trouxesse os ouvintes mais próximos a Deus, pois o nosso único mediador não teve vez.

Vamos largar o cristianismo genérico! Afinal de contas é Jesus que nos traz a um relacionamento com Deus. Vamos falar de Deus, cantar sobre Deus, mas pelo próprio plano revelado Dele, vamos exaltar Jesus Cristo, para a glória de Deus Pai. Afinal de contas, o motivo de medicamentos genéricos é baratear o custo; do genérico da pirataria, de evitar o preço alto do original. Mas a mensagem do evangelho–a boa nova–é que o preço alto já foi pago por Cristo, e Ele é o ingrediente ativo da nossa salvação. Neste caso, o genérico não tem nem lógica. Produto original, e de graça (pela graça de Deus): tem coisa melhor?

Fontes Confiáveis?

Aconteceu de novo. Estava conversando com alguém sobre uma coisa ou outra, e no meio da conversa, a pessoa me contou uma história que tinha recebido por email. Era mais uma daquelas histórias cheias de dificuldades que são superadas por uma série de eventos “milagrosos,” que termina com um final feliz. “Nosso Deus é grande, né? Só Ele para fazer coisas assim.”

Na verdade, na maioria dos casos, Deus tem pouco a ver com a história. Como sei disso? Em menos de dois minutos de busca na internet, a maioria das histórias recicladas por email podem ser confirmadas como verdadeiras ou desmascaradas como meros mitos. Dos mitos, alguns são histórias fictícias criadas para ensinar alguma lição. São contos inofensivos, contanto que sejam transmitidos e entendidos como ficção. Outros são histórias também fictícias, mas contadas como fato. A pesquisa rapidamente mostra que são apenas mitos reciclados desde antes da era do email. O mais recente, mencionado acima, circula desde 1954!

Já recebi muitos emails assim. Um dizia que existe um filme em produção que retrata homossexualismo na vida de Jesus; outro fala da atrocidade num país muçulmano, onde um menino tem o braço esmagado por um carro por roubar um pedaço de pão; e outro fala de um milagre que envolve a aparência de Jesus. Dois minutos de pesquisa, e descobri que o filme é um boato que circula desde 1984, e que não existe um filme destes em produção hoje. A “atrocidade” é uma série de fotos de um truque que pai e filho fazem juntos para ganhar dinheiro. O menino não é machucado. O outro circula há alguns anos, e os “fatos” da história mudam cada vez.

Porque isto vale menção no blog? Porque as pessoas que estão me enviando este emails estão enviando como se fossem fatos ocorridos. Dão até glória a Deus por tal milagre acontecido, mesmo quando o milagre não tenha nenhuma coerência com os ensinamentos básicos das Escrituras. Eu menciono aqui estas coisas para exortar os irmãos ao discernimento quando lendo estas histórias, e muito cautela ao decidir passá-las adiante para os amigos na sua lista.

Até onde podemos confiar em fontes além das Escrituras? Bem, nas palavras de Pedro, “[Nós, os discípulos] não seguimos fábulas enganosas quando vos fizemos conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, pois nós fomos testemunhas oculares da sua majestade. Porquanto ele recebeu de Deus Pai honra e glória, quando pela Glória Magnífica lhe foi dirigida a seguinte voz: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo; e essa voz, dirigida do céu, ouvimo-la nós mesmos, estando com ele no monte santo. E temos ainda mais firme a palavra profética [ou seja, as Escrituras] à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma candeia que alumia em lugar escuro, até que o dia amanheça e a estrela da alva surja em vossos corações; sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade dos homens, mas os homens da parte de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo.” (2 Pedro 1:16-21)

Aqui está Pedro, que não só viu Jesus, como também o ouviu (por pelo menos três anos de ministério, e depois da ressurreição), dizendo que a palavra “ainda mais firme” é aquela que vem por inspiração de Deus (2 Tim. 3:16-17 fala disso). Já pensou? Alguém que viu Jesus, ouviu Jesus, andou com Jesus (andou até nas águas com Ele!), está dizendo que mais firme do que o testemunho dele é a palavra que vem para nós de Mateus, Marcos, Lucas, João, e Paulo (e até as cartas de Pedro que foram escritas sob inspiração), pois enquanto as informações que vêm dele tem possibilidade de erros, enganos na memória, as palavras destes autores vêm direto de Deus, sem os mesmos erros e enganos. Quanto mais devemos valorizar as Escrituras hoje, então, quando não temos testemunhas vivas como Pedro e os outros? Quanto mais devemos usar cautela quando lendo sobre supostos milagres, aparecimentos de Cristo (como se Ele fosse aparecer aqui antes da sua Segunda Vinda!), e outras histórias que se escondem atrás do anonimato da internet?

Quero deixar três coisas claras:

  1. Eu não estou desprezando a ação de Deus no mundo hoje. Eu não decido o que Deus pode ou não fazer. Mas Deus não vai agir senão conforme a Sua palavra, de forma coerente. O que faz Deus tão confiável é que Ele não mente. Ele não só faz o que diz, mas também age de acordo com o que Ele diz. Avaliem essas histórias. São coerentes com a revelação própria de Deus nas Escrituras? Se não, então para o lixo com elas, e não as repasse! Se forem coerentes, descubra se são fatos, ou meras histórias criadas para ensinar, e repasse-as com sabedoria.
  2. Eu também não estou dizendo que não existem atrocidades por aí dos quais precisamos ser alertados. Mas antes de repassar um email, confirme a história. Não deixe que o sensacionalismo crie tanta dúvida que as histórias verdadeiras são descartadas junto com o lixo. Eu adoro mexer com Photoshop, então eu sei o quanto fotos podem ser alteradas com pouco esforço. Não confie em tudo que vê.
  3. Nós temos a palavra mais certa, mais firme–as Escrituras inspiradas por Deus! Eu não acho necessário ler uma história inventada sobre uma ação milagrosa que não aconteceu para glorificar a Deus. A minha existência é um milagre (Salmo 139:14); a minha nova vida em Cristo é um milagre (Efésios 2:4-7). E eu sei disso porque Deus me disse, não porque alguém me mandou um email.

Vamos ler a palavra “ainda mais firme.” Ela vem de uma Fonte Confiável.