Quando Deus Faz Uma Lista…

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Geralmente nós fazemos listas para esboçar o que é importante, seja para nós mesmos, ou para outra pessoa. Fazemos listas de compras para ter um resumo daquilo que precisamos comprar; professores fazem listas de materiais necessários para os alunos; patrões fazem listas de regulamentos para o trabalho a ser feito. Enfim, fazemos listas para resumir o que é importante.

Imagine se Deus fizer a lista, então. Quando Deus faz uma lista, é porque Ele está nos dando, em forma resumida, o que Ele quer que façamos (ou não façamos). Quando você acha uma lista na Bíblia, é Deus falando, “Olha, só para você não ter dúvida do que estou falando, você resumir para você”. Abaixo nós temos algumas listas importantes da Bíblia que podem nos ajudar a avaliar se nossas prioridades se enquadram nas prioridades de Deus. As listas estão na ordem que se encontram na Bíblia.

Os Deis Mandamentos (Êxodo 20.1-19; Deuteronômio 5.6-21). Só porque estamos sob a graça, não significa que esta lista foi anulada. Jesus veio e cumpriu esta lei, e até aumentou o grau da nossa obediência (leia Mt 5.21-29 se tiver alguma dúvida sobre isto). O importante é lembrar que a obediência à lei não nos salva; nós somos salvos para poder obedecê-la.

  1. Eu Sou o SENHOR, o teu Deus. Não terás outros deuses além de mim.
  2. Não farás para ti nenhum ídolo
  3. Não tomarás em vão o nome do SENHOR, o teu Deus
  4. Lembra-te do sábado, para santificá-lo
  5. Honra teu pai e tua mãe
  6. Não matarás
  7. Não adulterarás
  8. Não furtarás
  9. Não darás falso testemunho contra o teu próximo
  10. Não cobiçarás (a mulher do teu próximo, e nada o que pertença a teu próximo)

As Coisas que Deus Odeia (Provérbios 6.16-19). Para Deus, que é a definição da perfeição e santidade, todo pecado é abominável. Mas Deus resolveu incluir, no livro de Provérbios, uma lista das coisas que Ele mais odeia. É interessante ver os conceitos ligados às partes do corpo (olhos, pés, mãos, etc.) e também que a falsidade é mencionada duas vezes. Em cada caso, o pecado é representado por algo ou alguém. Deus odeia:

  1. O orgulho (olhos altivos)
  2. A falsidade (língua mentirosa)
  3. A violência contra os inocentes (mãos que derramam sangue inocente)
  4. A perversidade (coração que traça planos perversos)
  5. A propensão à maldade (pés que se apressam para fazer o mal)
  6. A falsidade, neste caso no aspecto jurídico (a testemunha falsa que espalha mentiras)
  7. A discórdia (aquele que provoca discórdia entre irmãos)

Os Abençoados por Deus (Mateus 5.3-11; Lucas 6.20-22). Na verdade, a palavra “abençoado” ou “bem-aventurado” traduz uma palavra grega que significa “feliz” (leia mais sobre isto no post, “Pessoas Verdadeiramente Felizes“). No famoso sermão do monte, Jesus estava dizendo às pessoas que poderiam ser verdadeiramente felizes se adotassem as prioridades de Deus ao invés de experimentar a felicidade passageira das prioridades da sociedade.

  1. Aquele que é pobre, mas piedoso
  2. Aquele que é triste, mas esperançoso do conforto de Deus;
  3. Aquele que é manso;
  4. Aquele que tem fome e sede por justiça;
  5. Aquele que é misericordioso;
  6. Aquele que é puro de coração;
  7. Aquele que é um pacificador;
  8. Aquele que é perseguido e falsamente acusado por seguir a Deus.

A Lista Mais Resumida (Mateus 22.36–40; Marcos 12.29–31; Lucas 10.26–28) Jesus disse três coisas muito importantes sobre esta lista de mandamentos. Em Mateus Ele disse, “Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas” (22.40). Em Marcos disse, “Não existe mandamento maior do que estes” (12.31). Em Lucas, falou àquele que perguntou como poderia ter a vida eterna, “Faça isso, e viverá” (10.28). A lista consiste em duas coisas, mas duas coisas MUITO, MUITO importantes:

  1. Amar a Deus (“de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento”)
  2. Amar ao próximo (a princípio, este mandamento falava que deveríamos amar ao próximo “como a nós mesmos”; mas Jesus mudou o mandamento quando falou aos seus discípulos para amar “como Ele nos amou”; cf. João 13.34)

As Obras da Carne (Gálatas 5.19-21). Mais uma vez, temos uma lista de coisas que Deus não quer na nossa vida. Observe que esta lista é de “obras”, e é uma lista negativa. Isto é interessante porque muitas pessoa põem uma ênfase muito grande nas obras como o meio da salvação, e Deus é bem claro que elas não servem para isto (Ef. 2.8, 9). Outra coisa é que uma obra é uma ação, produto da nossa volição; em outras palavras, queremos fazer, portanto fazemos. Isto entrará em contraste com “os frutos” da próxima lista, pois “fruto” é um resultado espontâneo e natural. Os frutos produzem obras boas, sim, mas a simples presença do Espírito Santo produz fruto na nossa vida. (Há algumas divisões temáticas naturais na lista, portanto estão separados para destacar estes temas.)

Relacionamentos carnais

  1. imoralidade sexual
  2. impureza
  3. libertinagem

Relacionamento com Deus

  1. idolatria
  2. feitiçaria

Relacionamento com os outros

  1. ódio
  2. discórdia
  3. ciúmes
  4. ira
  5. egoísmo
  6. dissensões
  7. facções
  8. inveja

Excessos

  1. embriaguez
  2. orgias
  3. e coisas semelhantes

O Fruto do Espírito (Gálatas 5.22, 23). Como vimos na lista anterior, em contraste às “obras da carne”, Paulo fala do fruto do Espírito. Estas coisas não são apenas agradáveis a Deus, mas são marcas da pessoa verdadeiramente salva (na qual o Espírito habita). A ausência prolongada e constante destas coisas pode muito bem indicar alguém que não conhece a Cristo verdadeiramente.

  1. amor
  2. alegria
  3. paz
  4. paciência
  5. amabilidade
  6. bondade
  7. fidelidade
  8. mansidão
  9. domínio próprio

Se pensarmos bem sobre estas listas de Deus, nós teremos uma boa ideia das prioridades dEle para as nossas vidas.

Pessoas Verdadeiramente Felizes

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Muitas pessoas querem a felicidade. A sociedade fala de muitas maneiras que você pode ser verdadeiramente feliz, muitas vezes por meio de mensagens conflitantes. Para ver um exemplo disto, basta examinar quantas mensagens lemos ou ouvimos que falam de fazer o que é bom para você; você é a chave da sua própria felicidade; as coisas devem ser da maneira que você quer, no seu tempo, e outras mensagens igualmente individualistas (egoístas); ao mesmo tempo nós lemos e ouvimos o quanto precisamos um do outro para a vida realmente funcionar. Podemos ver traços do princípio mais básico da interação “eu com o meu próximo”: “Faça aos outros o que quer que façam com você” — a regra de ouro — e mesmo assim o princípio parece ter um lado egoísta, e acaba parecendo mais: “Faça tudo que for necessário para ser feliz; e ah, se você por acaso fizer algo bom para alguém — parabéns!”

A Bíblia, de fato, tem algumas formulas bastante claras para obter a felicidade. Em algumas versões, elas ficam um pouco escondidas pelas palavras usadas na tradução. A palavra hebraica ‘esher, e a palavra grega makarios ambas contêm a mesma ideia: a felicidade. Já que muitas vezes elas falam da felicidade que vem como resultado do favor de Deus, geralmente são traduzidas como “abençoado” ou “bem-aventurado.” Não estou dizendo que isto é incorreto; estou sugerindo que você leia “bem-aventurado” nestes contextos com um fator adicional: pense “felicidade”! Senão, você perderá esta nuance importante quando ler a palavra “bem-aventurado.” (Observação: nem todo “bem-aventurado” ou “abençoado”, ou suas variações em português, podem se lidos assim, pois estes termos traduzem outras palavras do hebraico e grego também. Refiro-me especificamente às duas palavras acima, ambas traduzidas “bem-aventurado” nos exemplos abaixo.)

Nos próximos exemplos, a palavra “bem-aventurado” poderia ser traduzida, “Ah, a felicidade daquele que…” ou “Como é excessivamente feliz aquele que…” O meu propósito não é mudar as palavras que você lê, mas adicionar o fator da “felicidade” sugerido nestes versículos. Deus está dizendo, “Eis o que vocês podem fazer para serem pessoas verdadeiramente felizes!” Considere: Deus não só nos criou, como também criou a capacidade de experimentar e sentir a felicidade. Isto faz dEle uma autoridade no assunto, então vale a pena parar e ouvir o que Ele tem a dizer.

Deus diz que há felicidade para a pessoa:

  • Que não associa-se ou ouve pessoas ímpias, mas que deleita-se constantemente na Palavra de Deus. (Sl 1.1, 2)
  • Que não oculta pecados pessoais, e experimenta o perdão de Deus. (Sl 32.1, 2)
  • Que faz parte do povo escolhido de Deus. (Este versículo fala especificamente de Israel, mas sabemos que cristãos do Novo Testamento também tem uma posição semelhante como “povo escolhido”; cf. 1 Pe 2.9). (Sl 33.12)
  • Que experimenta Deus e encontra abrigo nEle. (Sl 34.8)
  • Que confia em Deus e não procura ajuda entre os ímpios. (Sl 40.4)
  • Que cuida das necessidades dos pobres (inclui uma promessa de livramento na hora da tribulação). (Sl 41.1)
  • Que é escolhido por Deus, e permitido viver na Sua presença. (Sl 65.4)
  • Que se fortalece em Deus, e deseja estar na na Sua presença. (Sl 84.5)
  • Que confia em Deus como soberano sobre todas as coisas. (Sl 84.12)
  • Que adora a Deus, experimentando o Seu favor (Sl 89.15)
  • Que deleita-se em obedecer a Deus (guardando os seus mandamentos). (Sl 112.1)
  • Que é um seguidor obediente e leal de Deus (guardando os seus mandamentos). (Sl 128.1)
  • Que escuta a sabedoria continuamente. (Pv 8.34)
  • Que vive as prioridades de Deus: que é pobre, mas piedoso; é triste, mas esperançoso do conforto de Deus; é manso; que tem fome e sede por justiça; é misericordioso; é puro de coração; é um pacificador; é perseguido e falsamente acusado por seguir a Deus. (Mt 5.3-11; Lc 6.20-22)
  • Que não é ofendido por causa de Jesus Cristo (no contexto, aquele que aceita a alegação de Jesus de ser o Messias). (Mt 11.6; Lc 7.23)
  • Que coloca o dar acima do receber. (At 20.35)
  • Cujos pecados são perdoados pela graça por meio da fé, e não das obras (cita Sl 32.1-2). (Rm 4.8)
  • Que persevera em todo tipo de tribulação (inclui uma promessa do galardão da coroa da vida). (Tg 1.12)
  • Que está alerta e pronto para a segunda vinda de Cristo. (Ap 16.15)
  • Que guarda as palavras profetizadas no livro de Apocalipse. (Ap 22.7)

Esta não é uma lista exaustiva, mas inclui a maioria das referências à felicidade. Se analisar quem Deus considera feliz, chegará a conclusão de que:

A pessoa verdadeiramente feliz
acredita em Deus (da Bíblia),
acredita e ama Sua Palavra,
acredita no Seu Filho,
confia na Sua provisão,
acredita na Sua salvação (e no Seu perdão),
obedece Seus mandamentos,
e vive as Suas prioridades.

Por mais resumida que seja esta lista, poderíamos resumir mais ainda. Se tomar um passo para trás e entender a inteireza da revelação de Deus ao homem, pode se dizer que a verdadeira felicidade vem de entender o seu lugar na existência que Deus criou para Sua glória. É por isto que Deus pôde resumir tudo que Ele diz ao homem em duas declarações simples:

Ame a Deus
Ame ao próximo

Faça isto, e você será verdadeiramente “bem-aventurado” — quer dizer, feliz.

 

“Onde Está Deus quando…?”

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É uma pergunta que ouvimos toda vez que há uma tragédia, não importa o tamanho. Pergunta-se quando milhares morrem, ou quando apenas um bebê não chega a tomar o primeiro fôlego da vida. Podem acompanhar as perguntas “Por quê, Deus?” ou “Como pode o Deus de amor deixar isto acontecer?” É um clamor do coração, uma pergunta desesperada por algo que nos norteie em meio à confusão da nossa tristeza. Para alguns, é um pergunta honesta que busca a Deus, e termina no conforto de Deus por meio de um entendimento da Sua palavra. Infelizmente, para muitos outros, é uma pergunta acusatória e que despreza a Deus, e termina no desespero que vem quando rejeitamos o Único que pode fazer sentido de qualquer parte da nossa existência.

No encalço de mais uma tragédia, pessoas estão fazendo esta pergunta, e outras semelhantes. E há uma resposta–uma resposta bíblica–para estas perguntas. Mas antes de falarmos sobre isto, considere como é realmente terrível a nossa situação:

Estatisticamente, nos dias desde 11 de março, 2011, mais pessoas morreram mundialmente do que o número mais alto previsto como resultado do terremoto que atingiu o Japão. De acordo com o CIA World Factbook (uma fonte de estatísticas mundiais da Agência Central de Inteligência dos EUA), em média, cerca de 150.000 pessoas morrem no mundo diariamente. Isto é, mais ou menos duas pessoas a cada segundo. Quando este artigo foi escrito, a previsão mais alta de mortes resultantes do terremoto e tsunami no Japão estava em torno de 10.000. Calcule o número de dias desde o terremoto do dia 11 de março e multiplique por 150.000, e então compare os resultados. Os números são estarrecedores.

Não entenda mal. O meu propósito aqui não é de minimizar a tragédia no Japão, mas sim de chegar a uma visão mais clara da tragédia global que acontece diariamente. Na minha vida já aconteceram muitas tragédias, com o número de mortos relativamente baixo nos acidentes aéreos e tragédias semelhantes, aos números mais altos em alguns ataques terroristas, aos números insanamente altos dos desastres naturais. E mesmo os números mais altos destes raramente chega à média diária de mortes mundiais de 150.000 pessoas.

A conexão entre estas estatísticas mórbidas e a pergunta original, onde está Deus quando tudo isto está acontecendo, é esta: nós tendemos a perguntar sobre o paradeiro de Deus quando um número inexplicavelmente alto de vidas são tiradas em um evento (e suas sequelas). A verdade é que, se entendêssemos a condição horrivelmente fatal que nós denominamos “vida”, nós perguntaríamos sobre Deus o tempo todo.

Deus não teme esta pergunta. De fato, Ele sabe que nós vamos fazê-la. Ele até já deu resposta.

Onde, então, estava Deus quando o terremoto atingiu o Japão?

A resposta mais básica é: onde Ele sempre esteve.

Eu sei que é um resposta simples, talvez até pareça banal, mas vou explicar mais.

Devemos entender, em primeiro lugar, um pouco de por que estas coisas ruins acontecem, antes de ver o que a Bíblia diz sobre o envolvimento de Deus em tudo isto. Os primeiros dois capítulos de Jó nos dão um resumo excelente das coisas ruins que podem acontecer com as pessoas. Em uma série de eventos, Jó perdeu:

  • quinhentas juntas de bois e quinhentos jumentos, que foram roubados pelos sabeus, que também mataram os seus servos (1.14, 15);
  • sete mil ovelhas e mais alguns servos, que foram consumidos pelo “fogo de Deus” que caiu dos céus (v. 16);
  • três mil camelos, que foram roubados pelos caldeus, que também mataram os seus servos (v. 17);
  • todos os seus filhos (dez ao todo), quando um “vento muito forte” destruiu a casa onde estavam (vv. 18, 19);
  • sua saúde (2.7, 8);
  • e o apoio de sua esposa (vv. 9, 10).

Em um piscar de olhos a vida de Jó foi transformada por uma série de eventos que eu considero a lista de “coisas ruins que podem acontecer comigo”:

As coisas que acontecem como resultado das ações pecaminosas dos homens. Já que todos somos pecadores, todos fazemos coisas pecaminosas (Rm 3.10, 23). Dos pequenos aborrecimentos à violência brutal, nós temos a capacidade de causar terrível sofrimento ao nosso próximo. Coisas que se encaixam nesta categoria seriam: abandono, abuso, qualquer tipo de violência (que inclui atos terroristas), bullying, intimidação, falando mal dos outros, e assim por diante. Sabeus e caldeus levando suas coisas seriam exemplos disto, como também uma esposa que conclui, “amaldiçoe Deus e morra”.

As coisas que acontecem como resultado da maldição do pecado no mundo natural. Quando Adão pecou, não foi só a humanidade que sofreu. Toda a natureza (criação) foi amaldiçoada também (Gn 3). O caos no clima e no mundo natural é resultado disto. Um distúrbio ainda maior aconteceu quando o mundo foi abalado por um dilúvio cataclísmico mundial, que veio como punição dos grandes atos pecaminosos (veja a primeira categoria acima) nos dias de Noé (Gn 6-9). Romanos 8.18-24 até explica como a criação sofre (Paulo descreve o sofrimento como dores do parto) por causa da maldição do pecado, como também espera ansiosamente pelo dia que será libertada da corrupção. Esta categoria inclui todos os desastres naturais como furacões, terremotos, e coisas semelhantes, como também doenças e defeitos congênitos que demonstram a maldição do pecado na ordem natural da criação em geral. Na história de Jó, vemos o vento forte (e possivelmente o “fogo de Deus”, dependendo exatamente do que se tratava) e a doença de Jó como este tipo de acontecimento.

As coisas que acontecem como resultado de ação sobrenatural. Nós não estamos sozinhos no mundo. Há um âmbito espiritual que pode, de forma muito real, afetar nossa existência diária. Deus mesmo escolhe, às vezes, interagir no mundo que Ele criou. O vemos nas Escrituras agindo miraculosamente: quando Ele altera a ordem natural daquilo que criou, i.e. opera contrário às leis que Ele mesmo estabeleceu. Pense sobre as pragas do Egito (Ex 7-12). Ele também pode agir providencialmente: quando Ele age dentro das leis naturais que Ele estabeleceu, moldando os eventos para resultar em algo proposital. Meu exemplo favorito disto é a forma que Ele operou, por muitas gerações de homens, para que, no momento certo, Jesus nasceria de tal modo que cumpriria todas as profecias feitas sobre Ele. Deus pode agir destas formas tanto para beneficiar a humanidade, como para julgar o pecado. Além de Deus, existem os anjos: seres espirituais poderosos que Deus criou, que são capazes de alterar as leis naturais para realizar atos incríveis (ex. aquele único anjo que matou 70.000 israelitas com pestilência em 2 Sm 24). Satanás e sua hoste de demônios também são anjos, mas que operam contra Deus e o Seu povo (como na história de Jó). Nem Satanás, nem os seus anjos são iguais a Deus, pois também foram criados, mas quando Deus os permite agir, eles demonstram todo o poder que Deus concedeu aos anjos. Na história de Jó, nós vemos que as primeiras duas categorias acima podem ser manipuladas por um ser sobrenatural. Deus permitiu que Satanás agisse, usando as ações de homens pecaminosos e as forças catastróficas do mundo natural para afligir a vida de Jó. (Tecnicamente, então, isto significa que estas coisas se encaixariam aqui, nesta terceira categoria, mas como também acontecem sem ação sobrenatural, convém separá-los.)

As coisas que acontecem como consequência do pecado individual. Esta foi a acusação dos amigos de Jó quando viram a aflição dele. Eles interpretaram todos os eventos dos capítulos um e dois como atos de Deus contra o pecado na vida de Jó, sem saber que era justamente por causa da retidão de Jó que ele estava passando tais tribulações. Mesmo que não fosse o caso na vida de Jó, sabemos que pecado individual tem suas consequências. Quando pecamos, desencadeamos uma série de eventos que terão consequências. Algumas são bastante graves. Quando elas vêm, não devemos perguntar, “Por que Deus permite que isto aconteça comigo?”, já que é óbvio que nós mesmos somos a causa. Eu nem estou falando do julgamento direto de Deus. Isto seria uma ação sobrenatural, portanto, da terceira categoria acima. Por exemplo, vamos supor que você peca contra o homem, dirigindo sob a influência do álcool, com um índice acima do que permitido pela lei, e também dirigindo acima do limite de velocidade. Você também estaria pecando contra Deus 1) por entregar o seu corpo à influência e ao controle de uma substância (Ef 5.18); e 2) por desobedecer as autoridades civis que Deus tem colocado na sua vida (Rm 13.1-6). As consequências destes atos podem incluir: multas, prisão, um acidente que machucasse ou matasse você, um acidente que machucasse ou matasse outras pessoas, e assim por diante. As consequências de pecados individuais podem ser passageiras (como multas, que são pagas e vão embora), ou podem completamente alterar sua vida (como passar a vida em uma cadeira de rodas por causa do acidente).

A importância de fazer estas distinções não é necessariamente para descobrir o porquê das coisas acontecerem. É mais para entender como nosso mundo amaldiçoado pelo pecado funciona. O perigo é de ver pecado individual como a causa de tudo ruim, ou seja: “Deus está julgando estas pessoas com um desastre natural”; ou, “os ataques de 11/09 foram um julgamento contra o pecado dos EUA”; ou, “eu não posso andar hoje porque eu estava pecando contra Deus e Ele me aleijou”; e etc. Precisamos distinguir entre as consequências do pecado individual e as repercussões do pecado original do homem com sua maldição sobre a ordem natural da criação. É importante aprender que nós nem sempre saberemos porque algo aconteceu, e não precisamos saber. O essencial é responder biblicamente às nossas circunstâncias. Ninguém falou para Jó da história por trás dos bastidores, pelo menos não que nós saibamos. Mesmo assim, ele respondeu biblicamente às circunstâncias (na maioria do livro).

Vamos usar o terremoto do Japão como exemplo, ou, pouco tempo atrás, do Haiti. Porque aconteceu? Eu não sei. Quais são as explicações possíveis?

Ou

Deus estava julgando algum pecado nacional (se fosse o caso, nós só saberíamos se Ele nos revelasse),

ou

Deus permitiu que Satanás agisse destrutivamente usando um desastre natural (por motivos que só Ele sabe),

ou

Deus permitiu que um desastre natural acontecesse, uma consequência da maldição do pecado no mundo natural (a mais provável das opções),

ou

outra opção que ainda não considerei.

O xis da questão é que nós não sabemos o porquê. Mas então o que nós sabemos? Sabemos que Deus ainda está no controle absoluto (e é por isto que Ele está, de alguma forma ou outra, em todas as opções acima), e que Ele nos ama (Jo 3.16), e que Ele quer que sejamos reconciliados a Ele (2 Pe 3.9). Sabemos que todos os Seus filhos envolvidos no desastre O verão agindo por meio das suas circunstâncias para cumprir o Seu plano, e, em última analise, para agir para o bem deles (Rm 8.28). Sabemos que devemos amar os japoneses (e haitianos), e orar por eles, e ajudá-los materialmente no que for possível. Sabemos que amanhã, ou no próximo dia, talvez, outro desastre vai acontecer em outro lugar, outra bomba explodirá, outra guerra começará (as coisas na Líbia começaram enquanto eu escrevia este post), e pessoas voltarão a perguntar, “Onde está Deus?”

Ao passo que uma média de 150.000 pessoas a cada dia, eu oro que mais e mais pessoas perguntem, em um clamor do coração que abala suas almas, “Onde está Deus!?”

E, em reposta, os Filhos de Deus precisam está prontos com a resposta, e, em amor, precisamos falar-lhes o que Deus fala na Sua palavra, “Eu estou onde sempre estive. Eu não mudei… Lhes apresento o Meu Filho, que morreu para trazê-los de volta para Mim. Vocês estiveram longe tempo suficiente. Voltem para Mim.”

(Enquanto terminava este post, minha esposa me falou que apenas uma hora atrás outro terremoto de 7,1 graus atingiu o Japão, comprovando o que eu dizia sobre “outro desastre vai acontecer”. Alguma dúvida sobre onde Deus está? Leia o post novamente.)