Quando concluímos que algo “tá bom assim”, estamos dizendo, na verdade, que não está. Pense só por um momento de como você usa a expressão. Você diz “tá bom assim” quando tem feito um trabalho maravilhoso? Claro que não. Reservamos a expressão para aqueles momentos quando temos nos esforçado para fazer algo, mas não pretendemos fazer mais. Depois de uma rápida avaliação do que seja o trabalho malfeito, julgamos que, “Ah! Tá bom assim”.
Anos atrás, quando entregava jornais para pagar o seminário, entregava, em média, quinhentos jornais por dia. Era uma corrida contra o relógio, o tempo, e os clientes mesquinhos que queriam o seu jornal perfeitinho. Nos dias miseravelmente chuvosos, quando já estava atrasado, era fácil ver um jornal voar pelo ar, deslizar pela calçada molhada, e quase desaparecer debaixo de um arbusto, deixando apenas uma pontinha visível, e pensar, “Ah! Tá bom assim. Na certa, eles encontram.” Mas não estava tão bom assim. Poderia estar melhor. E é aqui que vemos um elemento chave do porquê que nós achamos que certas coisas estão “bem assim”: por que corrigá-las dá mais trabalho; talvez até seja necessário começar tudo de novo. No caso, teria que sair do meu carro (Sim, entregava jornais no carro. Não se entrega quinhentos jornais de bicicleta! Nem nos filmes!), correr até o jornal, e colocá-lo num lugar mais visível. Num lugar que não ficaria ensopado. Não poderia dizer-se o mesmo de mim quando chegasse de volta ao carro.
Estou fugindo do assunto.
“Tá bom assim” sugere que você não fez o seu melhor, só fez o suficiente para achar que está bom. Também sugere que você não se importa em fazer o seu melhor, mas que ficará satisfeito em deixar passar com um “tá bom assim”.
Temo que muitos cristãos hoje acham que aquilo que estão fazendo para Deus está bom do jeito que está. “Ah! Tá bom assim. Deixa.” Isto é meio estranho, pois a minha experiência é que a maioria de nós acredita que poderíamos fazer melhor. (De fato, até hoje só conheci uma pessoa que disse, “Não, não posso fazer melhor. Estou fazendo o melhor possível”. Infelizmente, ela estava sendo muito generosa consigo mesmo.) Mas além desta alarmante exceção, os cristãos que eu conheço diriam que, obviamente, sempre há mais que pode ser feito, e ser feito de forma melhor. Então por que parece que tantas destas mesmas pessoas (inclusive eu) se contentam em fazer algo que “tá bom assim”?
Considere a nossa salvação. Quais dos nossos esforços foram suficientemente bons para Deus nos aceitar? Será que alguém poderia juntar todas as maiores e melhores obras de altruísmo e solidariedade conhecidos pelo homem, colocar-se diante do nosso Criador e dizer, “E aí, Deus. Tá bom assim?” Não é verdade que a salvação de nossas almas exigiu que reconhecêssemos que éramos incapazes de fazer algo suficientemente bom? Todos estávamos longe da glória de Deus (Rm 3.23). É por isto que Cristo teve que se oferecer em nosso lugar. Nós simplesmente não éramos suficientemente bons.
E então, se os nossos melhores esforços não eram o suficiente, por que devemos nos esforçar agora? É porque os nossos esforços depois da salvação são diferentes do que eram antes da salvação. Vários trechos falam que somos salvos para as boas obras, mesmo que certamente não por meio delas (cf. Ef 2.8-10; Tt 2.11-14; Ti 2.17, e assim por diante). Havendo recebido a salvação pelo supremo sacrifício do único que podia fazer tal coisa, Jesus Cristo, nós somos encorajados, exortados, e ordenados a agir, impelidos pela nova habilidade de sermos como Ele é (e até isto só conseguimos pelo Seu Espírito. cf. Ga 3.3).
E isto não serve só para nós fazermos algo que “tá bom assim”. Refiro-me a Romanos 12.1, “Portanto, irmãos, rogo-lhes pelas misericórdias de Deus que se ofereçam em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; este é o culto racional de vocês”. Quero ressaltar duas coisas deste versículo:
Primeiro, Paulo implora aos leitores que apresentem os seus corpos como sacrifícios, vivos, santos, e agradáveis a Deus. O sacrifício não dava apenas uma porção de si mesmo, e depois saía, dizendo, “Ah, tá bom assim”. Não, o sacrifício era consumido pelo altar, senão pelos os sacerdotes. Entendam: o sacrifício era oferecido completamente a Deus. Paulo não está sugerindo que nos rendamos pela metade, e sim, inteiramente. E o fato que a nossa oferta deve ser santa e aceitável a Deus significa que Ele não procura no sacrifício apenas quantidade (eu dei tudo), mas qualidade (eu dei o meu melhor–pelos padrões dEle!).
Em segundo lugar, Paulo diz que isto é o seu “culto racional” (literalmente, “a sua adoração verdadeira”). Deus não está procurando por pessoas que carregam uma lista de “coisas que faço por Deus” e chegam a conclusão, “Estou fazendo o suficiente. Tá bom assim”. A verdadeira adoração exige que nós ofereçamos tudo que há em nós (sacrifício) para ser consumido na Sua obra. E, por sinal, a chave de como fazer isto está no próximo versículo, que explica que sacrifícios vivos não se conformam ao padrão deste mundo, mas são transformados para viver de acordo com o padrão de Deus (Rm 12.2).
Tudo se resume assim: na sua caminhada cristã, seja no seu estudo da Palavra de Deus, na sua comunhão com outros cristãos, no seu testemunhar das maravilhosas novas para aqueles que não conhecem a Cristo–o que seja, você nunca deveria contentar-se em dizer, “Ah, tá bom assim”.
Somos chamados para sermos sacrifícios vivos, santos, e aceitáveis: menos que isto, simplesmente não tá bom assim.
