Os Conflitos no Lar e a Escolha do Pacificador

 

Confirmei agora com Pastor Jayro que o livro “Os Conflitos no Lar e a Escolha do Pacificador” (inglês “Peacemaking for Families”) de Ken Sande está pronto! Você pode já fazer o seu pedido pelo site da Igreja Batista Pedras Vivas. Diz no site:

Neste livro, Ken Sande e Tom Raabe propõem uma alternativa bíblica para lidar com os conflitos que trazem tanta dor e separação. Os autores partem do fato de que um conflito sempre começa com algum tipo de desejo. Tais desejos podem se transformar em exigências, que se não forem atendidas evoluirão para julgamentos e terminarão em retaliação. Porém, os autores não se detêm apenas no problema, antes, apresentam de maneira criativa e atraente as soluções bíblicas por meio de inúmeras ilustrações de situações de conflitos familiares. Em todo tempo eles têm em mente que tais conflitos se resolvem com a aplicação de princípios pacificadores. Os princípios e conselhos esboçados neste livro tornarão o seu relacionamento com o cônjuge e filhos mais caloroso, intenso e, sobretudo, agradável a Deus. Isto porque seu lar será um lar de pacificadores, onde todos os seus integrantes serão ensinados e treinados em como aplicar princípios que promovem a paz.

É um livro que recomendo a qualquer pessoa, pois trata de como lidar com problemas familiares (desde a criação de filhos à resolução de problemas entre pais e seus filhos adultos) de uma forma bíblica.

Será uma grande bênção para você, sua família, e o seu ministério.

Leiam sobre o livro no blog “Biblioteca Evangélica.”

A Cebola do Shrek

(Read this post in English.)

É óbvio que a cebola não é, realmente, do Shrek. O fato é que a cebola já foi usada como ilustração na sociologia, psicologia, guias de auto-ajuda, e até para programar  computadores. E faz muito sentido: a cebola tem camadas, e, portanto, pode ser usada para descrever algo complexo ou estratificado. Eu chamo isto da cebola de Shrek porque Shrek fez com que isto fosse memorável para mim. Talvez você lembre da cena. O Burro tagarela está tentando convencer o Shrek de fazer algo digno do um ogro, e atacar diretamente o seu rival. Então o Shrek lhe explica a complexidade de ser um ogro:

Shrek: Pra sua informação, há mais do se imagina nos ogros.

Burro: Exemplo?

Shrek: Exemplo? Ok… Ah… Nós somos como cebolas.

[estende uma cebola para o Burro, que dá uma cheirada]

Burro: Fedem?

Shrek: Sim. Não!

Burro: Oh. Fazem você chorar.

Shrek: Não.

Burro: Oh, deixa eles no sol e eles ficam marrons e soltam aqueles cabelinhos…

Shrek: [descascando a cebola] Não! Camadas! As cebolas têm camadas, os ogros têm camadas. A cebola tem camadas, entendeu? Nós dois temos camadas.

Agora toda vez que penso em uma situação complexa que precisa ser examinada camada por camada, eu penso, “É a cebola do Shrek.” (Quem já fez aula de hermenêutica comigo sabe que é verdade.) E naturalmente, longo penso no Burro, dizendo, “Ah, vocês dois tem camadas. Oh. Sabe, nem todos gostam de cebolas. Que tal um bolo? Todo mundo adora bolo!” E, melhor ainda: “Sabe de outra coisa que todo mundo adora? Pavê!”

A minha mente funciona de um jeito muito estranho.

Mas porque estou falando da cebola do Shrek?

A nossa igreja tem feito uma série de mensagens recentemente sobre a suficiência das Escrituras, e o estudo trouxe à tona muitas coisas interessantes e reveladoras sobre pessoas e o seu entendimento da Bíblia. A mensagem central da série foi simples, mas ainda assim fundamental: Deus nos deu a verdade na Sua Palavra que é suficiente para a “vida e piedade” (2 Pe 1.3), e que é inspirada por Deus, portanto proveitosa para “ensino, repreensão, correção, e instrução em justiça”, com o propósito de fazer o cristão completo, e completamente capacitado para toda boa obra (2 Tm 3.16, 17). Obviamente, isto deveria ser uma verdade central na vida de qualquer cristão. Deus não criou o homem e o deixou para se virar, mas deu-lhe instruções suficientes de autoridade divina na Sua Palavra para que pudesse entender e viver neste mundo que Deus criou.

Permita-me um momento para uma explicação pessoal. Esta verdade é essencial para mim; é uma pressuposição fundamental que alicerça tudo que faço: ou a Bíblia é a absoluta Palavra de Deus, e portanto tem autoridade divina, ou é simplesmente mais uma grande coleção de literatura humana, tão valiosa quanto qualquer outra coisa que o homem já escreveu. Eu entendo o risco de basear toda a minha estrutura em uma verdade só, mas é um “risco” que corro com prazer. Sempre penso nas palavras maravilhosas de C.S. Lewis, “Eu acredito no cristianismo como acredito que o sol nasceu: não só porque o vejo, mas porque por ele vejo todas as outras coisas” (citado online, aparentemente de um artigo chamado (“A Teologia é Poesia?”, 1945). Ele falou do cristianismo como um todo, mas é óbvio, e até mais apropriado, dizer isto sobre as Escrituras. A Bíblia é o nosso sol espiritual, porque não só a vemos, mas por causa dela, vemos todas as outras coisas.

Então, quando eu arduamente compartilho esta verdade que para mim é tão básica e necessária, e escuto respostas que refletem uma ignorância completa das coisas mais básicas da Bíblia (como, por exemplo, onde se encontram os Evangelhos), ou histórias de experiências pessoais com Deus (que contrariam a Palavra de Deus), ou canja de galinha para alma (ou seja, aquelas historinhas bonitinhas e rasas), ou o que o autor Paul Tripp chama de uma leitura das Escrituras do “copiar e colar” (Instrumentos, p. 48), eu vejo que estou de cara com uma cebola do Shrek: reconheço que há muitas e muitas camadas para descascar antes que esta verdade atinja o cerne da cosmovisão destas pessoas.

Eu uso a palavra “ignorância” várias vezes neste post, então gostaria de explicar uma coisa sobre o termo. Eu não o uso como insulto, ou para ofender. Eu me lembro de ficar ofendido no segundo grau (ensino médio para vocês, mais jovens), em uma aula de química. Tinha feito um erro de cálculo muito óbvio, e falei, “É, eu sou burro mesmo.” O professor, prestativo, me corrigiu, “Você não é burro; é ignorante.” Ai! Essa doeu. Mas ele estava certíssimo. A minha ignorância–a falta de conhecimento sobre o assunto–havia levado ao erro de cálculo, que graças a Deus, não levou a uma explosão. Era aula de química, afinal. Descobrindo que você é ignorante sobre um assunto não deve ofendê-lo; deve incentivá-lo a querer saber mais.

Vamos começar com a camada da ignorância geral da Bíblia–pessoas que simplesmente não conhecem nada a Palavra de Deus. Não estou falando de crentes novos, mas de crentes estagnados. Entraram nessa, Deus sabe como (digo isto com todo respeito a Deus), e agora frequentam aos cultos e eventos da igreja sem base alguma. Sua dieta espiritual da Palavra consistente em beliscadinhas de coisas que ouviram ou leram; das migalhas que recebem aleatoriamente no dia a dia. Não discriminam o que consomem, e portanto sua saúde espiritual está em crise. Não podem nem ser protegidos pelos pastores do seu rebanho, pois são eles que visitam os lobos regularmente por conta própria. A esta camada de ignorância, você apresenta o conhecimento bíblico. Você enfatiza a leitura da Palavra de Deus.

A camada sai, revelando outra camada de ignorância: pessoas não sabem como ler a Bíblia. Vejam o que Paul Tripp diz:

Muitos cristãos simplesmente não entendem o que a Bíblia é. Muitos acham que ela é uma enciclopédia espiritual: o catálogo completo de Deus sobre os problemas humanos, associado á lista completa de respostas divinas. Se você abrir na página certa, poderá encontrar respostas para qualquer conflito. Uma variação mais sofisticada vê a Bíblia como um livro texto de teologia sistemática, um esboço de tópicos essenciais que devem ser dominados para viver e pensar da maneira de Deus. Nos dois casos, temos a tendência de oferecer uns aos outros, partes isoladas das Escrituras (um mandamento, um princípio, uma promessa) que parece se encaixar na necessidade do momento. Pensamos que ministrar a Palavra é um pouco mais que um sistema espiritual de copiar e colar. (Instrumentos, 48).

Ele continua, explicando que precisamos de uma visão completa das Escrituras, uma visão que compreende a inteireza da história da redenção de Deus e coloca os trechos e versículos dentro deste contexto. Pessoas presas na primeira camada (da ignorância geral), que estão imaginando por onde começar, vão se espantar com esta informação. “O quê? Eu tenho que ler a Bíblia toda?” Calma. Passo pequenos primeiro. Mas sim, eventualmente, você precisa ler tudo, sim. A beleza das Escrituras não deveria ser reduzida ao artesanato de uma feira hippie–uma coleção de frases bonitinhas bordadas em toalhas, pintadas em plaquinhas ou enviadas em emails para nos ajudar a sobreviver o cotidiano.  Deveria ser admirada na sua maravilhosa e coesa inteireza, com todas as suas conexões, como Monet, pintando uma obra em uma escala muito maior do que já trabalhava. De perto, vemos pontinhos e cores da verdade de Deus, mas assim que aprendemos mais, e damos alguns passos para trás, vemos a mão de um infinito Deus, todo sábio, todo poderoso, juntando coisas aparentemente aleatórias em um plano mestre épico e eterno que deve nos maravilhar. Esqueça o 3D. Coloque uns óculos onidimensionais e aprecie esta obra prima de Deus.

Eu poderia continuar descascando a cebola, mas não vou. Basta apenas dizer que há camadas de experiências pessoais que são valorizadas acima da verdade de Deus; camadas de informações falsas de pessoas bem-intencionadas e outras que querem nos enganar; camadas de perspectivas pessoais e reflexões egoístas e autocêntricas que cancelam aquilo que Deus está nos dizendo; camadas de preguiça e falta de disciplina. Estão aí, na minha vida e sua, e tem que ser descascadas para chegar ao cerne da nossa cosmovisão.

O bom de tudo isto é que funciona da mesma forma que a salvação. Na salvação, entendemos que por mais que descasquemos a cebola, nunca vamos retirar camadas suficientes para remover o que nos separa de Deus. É Deus que tem que penetrar todas elas, e nos transformar de dentro para fora, de mudar o coração. O resultado disto é que algumas camadas caem sozinhas, e outras se tornam mais fáceis de retirar. Quando se trata de conhecer a Palavra de Deus, a mudança não é diferente. Deus está, novamente, mirando os nossos corações. Sim, há muito para aprender sobre como ler e entender a Bíblia, mas você não pode errar começando assim: leia sua Bíblia. Aproxime-se dela com a atitude de querer aprender o que Deus tem para dizer para você, e não o que você quer ouvir Deus falar. Afinal, que melhor maneira há para cortar as camadas da cebola do que uma espada de dois gumes? (Hb 4.12)

______
Paul David Tripp: Instrumentos na Mãos do Redentor: Pessoas que Precisam Ser Transformadas Ajudando Pessoas que Precisam de Transformação. Ed. NUTRA, SP: 2009.

Ah! Tá bom assim.

Quando concluímos que algo “tá bom assim”, estamos dizendo, na verdade, que não está. Pense só por um momento de como você usa a expressão. Você diz “tá bom assim” quando tem feito um trabalho maravilhoso? Claro que não. Reservamos a expressão para aqueles momentos quando temos nos esforçado para fazer algo, mas não pretendemos fazer mais. Depois de uma rápida avaliação do que seja o trabalho malfeito, julgamos que, “Ah! Tá bom assim”.

Anos atrás, quando entregava jornais para pagar o seminário, entregava, em média, quinhentos jornais por dia. Era uma corrida contra o relógio, o tempo, e os clientes mesquinhos que queriam o seu jornal perfeitinho. Nos dias miseravelmente chuvosos, quando já estava atrasado, era fácil ver um jornal voar pelo ar, deslizar pela calçada molhada, e quase desaparecer debaixo de um arbusto, deixando apenas uma pontinha visível, e pensar, “Ah! Tá bom assim. Na certa, eles encontram.” Mas não estava tão bom assim. Poderia estar melhor. E é aqui que vemos um elemento chave do porquê que nós achamos que certas coisas estão “bem assim”: por que corrigá-las dá mais trabalho; talvez até seja necessário começar tudo de novo. No caso, teria que sair do meu carro (Sim, entregava jornais no carro. Não se entrega quinhentos jornais de bicicleta! Nem nos filmes!), correr até o jornal, e colocá-lo num lugar mais visível. Num lugar que não ficaria ensopado. Não poderia dizer-se o mesmo de mim quando chegasse de volta ao carro.

Estou fugindo do assunto.

“Tá bom assim” sugere que você não fez o seu melhor, só fez o suficiente para achar que está bom. Também sugere que você não se importa em fazer o seu melhor, mas que ficará satisfeito em deixar passar com um “tá bom assim”.

Temo que muitos cristãos hoje acham que aquilo que estão fazendo para Deus está bom do jeito que está. “Ah! Tá bom assim. Deixa.” Isto é meio estranho, pois a minha experiência é que a maioria de nós acredita que poderíamos fazer melhor. (De fato, até hoje só conheci uma pessoa que disse, “Não, não posso fazer melhor. Estou fazendo o melhor possível”. Infelizmente, ela estava sendo muito generosa consigo mesmo.) Mas além desta alarmante exceção, os cristãos que eu conheço diriam que, obviamente, sempre há mais que pode ser feito, e ser feito de forma melhor. Então por que parece que tantas destas mesmas pessoas (inclusive eu) se contentam em fazer algo que “tá bom assim”?

Considere a nossa salvação. Quais dos nossos esforços foram suficientemente bons para Deus nos aceitar? Será que alguém poderia juntar todas as maiores e melhores obras de altruísmo e solidariedade conhecidos pelo homem, colocar-se diante do nosso Criador e dizer, “E aí, Deus. Tá bom assim?” Não é verdade que a salvação de nossas almas exigiu que reconhecêssemos que éramos incapazes de fazer algo suficientemente bom? Todos estávamos longe da glória de Deus (Rm 3.23). É por isto que Cristo teve que se oferecer em nosso lugar. Nós simplesmente não éramos suficientemente bons.

E então, se os nossos melhores esforços não eram o suficiente, por que devemos nos esforçar agora? É porque os nossos esforços depois da salvação são diferentes do que eram antes da salvação. Vários trechos falam que somos salvos para as boas obras, mesmo que certamente não por meio delas (cf. Ef 2.8-10; Tt 2.11-14; Ti 2.17, e assim por diante). Havendo recebido a salvação pelo supremo sacrifício do único que podia fazer tal coisa, Jesus Cristo, nós somos encorajados, exortados, e ordenados a agir, impelidos pela nova habilidade de sermos como Ele é (e até isto só conseguimos pelo Seu Espírito. cf. Ga 3.3).

E isto não serve só para nós fazermos algo que “tá bom assim”. Refiro-me a Romanos 12.1, “Portanto, irmãos, rogo-lhes pelas misericórdias de Deus que se ofereçam em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; este é o culto racional de vocês”. Quero ressaltar duas coisas deste versículo:

Primeiro, Paulo implora aos leitores que apresentem os seus corpos como sacrifícios, vivos, santos, e agradáveis a Deus. O sacrifício não dava apenas uma porção de si mesmo, e depois saía, dizendo, “Ah, tá bom assim”. Não, o sacrifício era consumido pelo altar, senão pelos os sacerdotes. Entendam: o sacrifício era oferecido completamente a Deus. Paulo não está sugerindo que nos rendamos pela metade, e sim, inteiramente. E o fato que a nossa oferta deve ser santa e aceitável a Deus significa que Ele não procura no sacrifício apenas quantidade (eu dei tudo), mas qualidade (eu dei o meu melhor–pelos padrões dEle!).

Em segundo lugar, Paulo diz que isto é o seu “culto racional” (literalmente, “a sua adoração verdadeira”). Deus não está procurando por pessoas que carregam uma lista de “coisas que faço por Deus” e chegam a conclusão, “Estou fazendo o suficiente. Tá bom assim”. A verdadeira adoração exige que nós ofereçamos tudo que há em nós (sacrifício) para ser consumido na Sua obra. E, por sinal,  a chave de como fazer isto está no próximo versículo, que explica que sacrifícios vivos não se conformam ao padrão deste mundo, mas são transformados para viver de acordo com o padrão de Deus (Rm 12.2).

Tudo se resume assim: na sua caminhada cristã, seja no seu estudo da Palavra de Deus, na sua comunhão com outros cristãos, no seu testemunhar das maravilhosas novas para aqueles que não conhecem a Cristo–o que seja, você nunca deveria contentar-se em dizer, “Ah, tá bom assim”.

Somos chamados para sermos sacrifícios vivos, santos, e aceitáveis: menos que isto, simplesmente não tá bom assim.