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Hebreus 11 é muito conhecido por ser o rol de honra da fé. Começa com esta introdução sobre a natureza ou essência da fé:
“Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos. Pois foi por meio dela que os antigos receberam bom testemunho. Pela fé entendemos que o universo foi formado pela palavra de Deus, de modo que aquilo se vê não foi feito do que é visível” (vv. 1-3).
Tendo explicado a fé desta forma, o autor de Hebreus dá uma lista de pessoas, na qual ele cita quinze nomes, e faz referência a muitos outros do versículo 32 em diante. Uma frase que sempre me surpreende e me inspira está no v. 38, “O mundo não era digno deles”. O autor dá um supremo elogio: tamanha era a fé deles, que o mundo não era digno de tê-los aqui. E o mundo reagiu à sua presença. A sociedade atacou a estas pessoas por meio de torturas e morte. Estes são o heróis da fé.
Mas, espera aí! Que heróis são estes? A lista está cheia de mentirosos, assassinos, prostitutas, covardes. Quatro nomes sempre pulam da página quando leio este trecho: Gideão, Baraque, Sansão, e Jefté. Estes sempre foram os heróis da escola dominical. Mas observem o retrato honesto que Deus pinta de suas vidas:
Gideão venceu os midianitas, mas se escondeu quase do começo ao fim de sua história; lutou contra a idolatria mas acabou voltando para ela no final (cf. Juízes 6-8). Baraque ganhou uma grande vitória sobre Sísera, mas perdeu a honra de matá-lo para uma mulher porque recusou-se a liderar os exércitos sem a ajuda de Débora (cf. Juízes 4-5). Sansão foi um homem fisicamente forte mas moralmente fraco, cujas façanhas de força quase sempre serviam para tirá-lo das enrascadas nas quais seu amor por mulheres proibidas o colocava (cf. Juízes 13-16). E Jefté foi um grande líder, desprezado por ser filho de prostituta, famoso por ter feito um juramento impensado que custou a vida da sua filha (cf. Juízes 11-12).
O motivo deste post não é a difamação destes homens. Longe disto! Deus falou honestamente sobre as ações deles, fossem boas ou más, e ainda assim, os colocou nesta lista dos grandes da fé. Eu creio que nós precisamos abraçar esta honestidade para entender uma valiosa lição, que é o motivo deste post: quando Deus planeja algo, Ele cumpre, mesmo quando Ele só tem instrumentos falhos para a obra. A primeira vista, parece que estes homens são penetras da festa da fé de Hebreus 11. “Baraque? Você por aqui? Quem te convidou, homem?” Mas quando entendemos que as pessoas nesta lista estão sendo elogiadas por sua fé, entendemos que, mesmo com as suas falhas, estas pessoas demonstraram uma fé do qual o mundo “não era digno”.
Isto não é uma desculpa para mediocridade entre cristãos. “Ah, se Deus aceitou a fé rasa de Gideão, então eu tô bem”. Não, a ideia não é esta. A ideia é de se esforçar para remover os empecilhos para uma fé maior do que esta. De ser um José, um Samuel, um Daniel (cujo nome não está na lista!); ou, vocês mulheres, de ser uma Débora, uma Rute, uma Maria (cujos nomes também não estão na lista)–pessoas das quais a Bíblia não fala de falhas morais, de pecados graves, das quais Deus não escolheu dizer algo negativo.
A ideia é de ver esta “nuvem de testemunhas” como exemplo e inspiração para o passo da fé que nós precisamos tomar. De livrar-nos “de tudo o que nos atrapalha e do pecado que nos envolve, e [correr] com perseverança a corrida que nos é proposta, tendo os olhos fitos em Jesus, autor e consumador da nossa fé. Ele, pela alegria que lhe fora proposta, suportou a cruz, desprezando a vergonha, e assentou-se à direita do trono de Deus” (Hb 12:1-2).
A grande verdade é que nenhum de nós merece ser elogiado por Deus. Mas pela Sua graça, mediante a nossa fé Nele, no Seu plano, e no Seu Filho, nós somos capazes de viver em um nível acima da mediocridade, participar dos planos de Deus para a humanidade, e talvez morrer por isto. Agora, olhos fitos em Cristo, a corrida não terminou!
